terça-feira, 29 de dezembro de 2009

No meio do caminho havia uma cerca

"É muito difícil descrever a história de O menino do pijama listrado. Normalmente, o texto de orelha traz alguma dica sobre o livro, alguma informação, mas nesse caso acreditamos que isso poderia prejudicar sua leitura, e talvez seja melhor realizá-la sem que você saiba nada sobre a trama."

(Esse é o texto da primeira orelha do livro O menino do pijama listrado (The boy in striped pyjamas, Companhia das Letras, 2007). Portanto, se você não gosta de spoilers, ou seja, se ainda quer manter-se na surpresa, não continue a leitura deste post.)


As palavras "inocência" e "guerra" já se esbarraram no cinema. Só para citar um exemplo (na verdade, não consegui lembrar de outro hehe), em A vida é bela (La vita è bella, 1998) o garotinho judeu é poupado de ver a realidade da guerra porque o pai, interpretado por Roberto Benigni, transforma o cotidiano no campo de concentração nazista em uma grande gincana. E, assim como o belíssimo filme italiano, O menino do pijama listrado trata-se de uma fábula de guerra.

O menino do pijama listrado tem título para crianças, uma capa que chama atenção de crianças e é narrado como se fosse por uma criança numa linguagem fácil para crianças. Há também no livro certos disfarces, recursos de que os adultos se utilizam para explicar coisas difíceis de serem explicadas - e principalmente de serem entendidas - a elas. Apesar de aparentemente para crianças John Boyne dá um nó na garganta de qualquer adulto a cada página, de tão perturbador.

Bruno é um menino de 9 anos que entra em choque ao saber que terá de sair de Berlim - da casa de cinco andares, da rua cheia de árvores, da vizinhança cheia de amigos - para viver em um lugar isolado - numa casa de três andares, numa rua de terra batida, numa vizinhança cujos vizinhos ficam a quilômetros de distância - porque seu pai foi transferido de setor no "emprego", e o tédio toma conta de seu dia a dia. Para dividir sua solidão: a empregada Maria sempre andando de cabeça baixa, a irmã três anos mais velha, um pneu que serve de balanço e uma paisagem nada bonita da janela - uma "fazenda" cujos trabalhadores se vestiam todos iguais delimitada por uma cerca de arame de onde ele nunca poderia chegar perto.


Mas chegou. E no meio do caminho, do outro lado da cerca, estava um outro menino - que fazia aniversário no mesmo dia que ele, era da mesma idade que ele, da mesma altura que ele, só que um pouco mais careca, magro e franzino que ele. Nem Bruno nem Schmuel, o menino do pijama listrado, têm consciência de que a cerca significa muito mais que uma simples delimitação de terras ou de que ambas as famílias estão envolvidas num conflito muito mais terrível do que a vontade deles de voltar para a cidade natal. Da inocência e da ingenuidade nasce uma bela amizade, que nem um monstro horrível como a "solução final" poderia separar.

John Boyne abusa da imaginação ao descrever cenas históricas jamais contadas e ao criar o brilhante final. Um final que dá arrepios, tanto no livro quando no filme (cena, acima), lançado em 2008, que se manteve fiel à história original. Ainda que a adaptação tenha usurpado a narração cativante de Boyne, o principal motor da história continua sendo a ingenuidade e a amizade entre os dois meninos que atravessam as fronteiras da guerra. No entanto, o diretor Mark Herman, além de ter estragado a (minha) surpresa já no trailer, deixa tudo com uma cara comercial demais, aproveitando-se do trunfo inicial de ter a visão infantil do protagonista para a guerra como uma forma de comover o público.


***
A todos um feliz 2010!
Até o ano que vem! (piadinha infame rs)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Uma questão sobre rodas

Algumas semanas atrás aquela fantástica novela das 21h - felizes são aqueles que não a veem - começou com uma discussão que me interessou. Uma questão sobre ética, egoísmo, futuro e sobre rodas.

Acho que mesmo quem não perde seu preciosíssimo tempo vendo uma novela que simplesmente não tem história e onde bons atores são desperdiçados sabe do que está rolando. A personagem da bocuda Alinne Moraes ficou tetraplégica depois de despencar de um penhasco durante uma viagem a trabalho. Beleza. A partir daí seguiu-se o tormento e o martírio desta jovem modelo, que tinha a vida toda pela frente, uma carreira bem-sucedida a seguir, quando, !, o chão desaparece sob seus pés e ela se vê imóvel - involuntariamente - na cama de um hospital. (Aliás, a descrição da revista Veja para a boca da atriz quando seu corpo está inerte foi sensacional. tentei achar uma foto que mostrasse a boca enorme dela, mas só achei essa aí acima. rs)

Então, antes da tragédia, a nossa bocuda preferida namorava e estava prestes a se casar com o arquiteto machista Jorge (Matheus Solano). bateu o pezinho pra ir à Jordânia fotografar contra a vontade do futuro noivo, eles brigaram, terminaram tudo, o ônibus despencou e deu no que deu. Chegando aqui, Jorge bancou o rapaz certinho como sempre foi - ao contrário do irmão gêmeo (na foto acima) meio louco que namora uma alcoólatra e arrasta uma asa pra cunhada agora tetraplégica -: levou flores, visitou, disse que a ama, pediu desculpas pela briga blá blá blá A sogra - a maravilhosa (mesmo, sem sarcasmo!) Lilia Cabral -, percebendo o andar da carruagem, tirou Jorge prum canto e fê-lo prometer que se casaria com a menina e ficaria ao lado dela, já que era neste momento que ela mais precisaria dele.

Aí entra em cena a mãe do dito cujo lembrando ao filho de que ele não pode prometer uma coisa dessas, pois tem uma vida inteira pela frente e não pode desperdiçá-la com uma tetraplégica que não tem chance de melhorar num futuro previsível - tudo bem, não foi assim que ela falou, mas estou resumindo a história. Ele argumenta que não pode deixar a bocuda nesse momento, que seria muito canalha se fizesse isso, mas fica com aquela pulga atrás da orelha. A mãe fica desesperada, dizendo que sempre sonhou uma vida normal para o filho, uma vida profissional cheia de sucessos, viagens e um casamento tranquilo, com netos correndo pela casa e tudo o que uma família precisa para ser feliz como num comercial de margarina.

Só que... ela é tetraplégica... Tetraplégica, e dizemos aqui com chance remota de voltar a andar. O que o rapaz deve fazer? Pensar nele mesmo, sair da vida da mulher à francesa - afinal de contas, abandone mas não precisa magoar, né? -, levar sua vida como se nada tivesse acontecido, como se não devesse nada a ninguém, viajar à vontade, casar e ter filhos com outra? Ou manda todas as mulheres que dão mole pra ele catar coquinho, finca o pé dizendo que amor vence tudo, ignora todo o futuro de conforto para ficar de enfermeiro ao lado da mulher amada, além de sofrer todas as restrições que um deficiente sofre hoje em dia?

Por um lado é egoísmo abandonar a menina. Por outro, é desesperador ter que dizer não à própria vida - uma vida que ele sempre sonhou, que sempre quis pra ele - para ajudar a amada a dizer sim à vida dela. Onde se encaixam a ética e o amor quando se tem tanta coisa em jogo?

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Um beijo delicado


Dezembro é o mês internacional da aids. Vocês já devem ter visto em pontos de ônibus, outdoors e propagandas na TV uma nova campanha do Ministério da Saúde em homenagem ao Dia Mundial de Combate à Aids em que um casal sorodiscordante - ou seja, quando um tem o vírus e o outro não - se beija apaixonadamente. (Aliás, que beijo é aquele, de tirar o fôlego, meu Deus.)

Um amigo me perguntou o que achava dessa campanha. Ela enfatiza a luta contra o preconceito em relação aos soropositivos. O menino tem o vírus HIV e a menina não. Quando terminam de se beijar, o menino continua com o vírus e a menina continua sem. É, de fato, criativa, prazerosa, bonita de se ver, direcionada aos jovens, respondi. Mas respondi também que talvez essa propaganda possa ser mal compreendida, principalmente pelos adeptos do sexo sem proteção e pelas pessoas sem informação.

Afinal, o que nós, pessoas instruídas, podemos concluir do beijo? Que uma pessoa com vírus pode beijar - beijar, beijar, beijar! - à vontade, sem preocupação, pois já foi provado não ser possível o contágio através da saliva. (Quer dizer, mais ou menos: se o soropositivo e sua namorada tiverem um corte grande na boca, o vírus pode passar por ali.)

O slogan da campanha é "Viver com aids é possível. Com preconceito não", e ela foi distribuída em várias partes do país (como mostra a foto abaixo) e do mundo. Na França, um beijo gay foi repudiado e censurado. É luta contra o preconceito ou não é?


No entanto, acho que a campanha - pelo menos no Brasil - está incompleta. Não é todo mundo que tem acesso à informação, que tem educação o suficiente para discernir sobre o que pode e o que não pode ser feito numa relação sorodiscordante. A propaganda não relata isso. Menciona a saliva, o toque... mas não menciona que sexo deve continuar sendo praticado com preservativos. A campanha só diz para o espectador manter-se informado, entrar no site do Ministério da Saúde e tal, mas se livra da responsabilidade dos atos que essa imagem pode causar. Uma pessoa mal informada pode entender: "Ah, se eu posso beijar, sentar ao lado, eu posso transar também" e libera geral. Acho mais importante dizer como se pega o vírus do que enfatizar como não se pega. Mas aí furaria o tema da campanha. O que conta mais?

***
Para mais informações, entre no site: www.todoscontraopreconceito.com.br
Para assistir à propaganda da TV, acesse: http://www.youtube.com/watch?v=C6rT10z84_c&feature=related

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Libertinagem

Pesquisando sobre Philip Roth e seu personagem Zuckerman, de que tanto Rubem Fonseca fala em seu Diário de um fescenino, acabei encontrando uma boa amostra daquele autor que pode traçar um diálogo com o livro. Chama-se O complexo de Portnoy, cujo narrador-protagonista é um advogado nova-iorquino que relata no divã do psicanalista, alternando passado e presente, a infância edipiana e opressiva ao lado da mãe judia, a adolescência dedicada à prática da masturbação, entre outras "perturbações".

Voltemos ao fescenino. Digo que o livro de Philip Roth pode traçar um diálogo com este por ambos terem: narradores-protagonistas; narradores confessionais (no caso de Roth, para o psicanalista; no caso de Fonseca, o diário); muita putaria e perversão; dois autores muito criticados e cultuados justamente pelo item anterior. Philip Roth é também muito conhecido por seu, digamos, alter ego: o protagonista de vários de seus livros Nathan Zuckerman. Alter ego porque muitos leitores acreditam que Zuckerman é Roth através de atos e pensamentos. Pela semelhança de personalidade, foram cunhadas as expressões "síndrome de Zuckerman" ou "zuckermanianos" dirigidas àqueles que acreditam nesta teoria.

Assim como Zuckerman e Roth, o mesmo fenômeno acontece aqui entre Rubem e Rufus, o escritor protagonista de Diário de um fescenino. Além da semelhança entre os nomes, autor e personagem compartilham a literatura de provocação e não poderiam, por menos, deixar de discutir a relação entre autor e leitor. Rufus é autor de cinco livros, mas apenas o primeiro foi best-seller. Tenta escrever o sexto por pressão de seu editor e, para não ficar louco, inventa de escrever um diário. Nos primeiros dias, tenta descrever esta função, mas, ao lado do relato de seu cotidiano e suas perspectivas, com o passar do tempo, Rufus vai introduzindo suas reflexões mais intensas sobre a vida, seus desejos, sua busca por autocompreensão e, claro, muitas digressões (que são o ponto alto do livro).

A ideia de escrever um diário ou cartas para contar o cotidiano ou o que se pensa sobre a vida não é incomum. O que torna Diário de um fescenino uma obra-prima é a ironia do texto, as referências a escritores estrangeiros, as citações latinas e, claro, o próprio enredo típico de Rubem Fonseca, recheado de cenas eróticas e palavrões. Rufus engana, trai e come todo mundo, e, quando você acha que o livro já está bom sem acontecer coisa alguma, Fonseca surpreende com uma reviravolta, de tal maneira que fica até difícil explicar. Uma boa descrição da sensação que é ler Rubem Fonseca é resumida na quarta capa de seu outro livro A confraria dos espadas, minha próxima leitura:

"A melhor coisa na obra de Rubem Fonseca é não saber aonde ela vai nos levar. Toda vez que começo um livro dele é como se atendesse um telefonema no meio da noite: 'Oi, sou eu. Você não vai acreditar no que está acontecendo.' Bem, talvez não no começo, mas logo já estou acreditando em tudo. Sua escrita faz milagre, é misteriosa. Cada livro dele não é só uma viagem que vale a pena: é uma viagem de algum modo necessária." (Thomas Pynchon)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Viagem de kombi (1)

Foi mais engraçado assistindo do que eu contando aqui.
Peguei a kombi pra Ribeira. Entrou uma mulher logo depois que, visivelmente, não batia bem da cabeça.

"Você vai pra Ribeira, né?", disse ela, perguntando pro motorista.
"Vamos sim, senhora."
"Você sabe onde fica a rua Lourenço da Veiga?"
"É na Ribeira? Então, entra aí que nós acha."
"Você vai me dizer quando saltar, né?"
"A senhora não tem nenhuma referência?"
"Você acha que eu tenho GPS? Liga aí o teu GPS, o GPS da kombi pra ver se acha."
"A gente não tem GPS."
"Olha lá, hein? Eu sou velha, mas não sou burra" e, virando-se pro trocador, "Esse cara aí é metido a esperto, mas não me engana. Tá ouvindo, né?"
"Tô sim, senhora", disse o trocador.
"Não me chama de senhora não que eu não sou velha", pro trocador, "aliás, pra você eu posso até ser tia, mas", pro motorista, "pra você, eu sou irmã, devo ter quase a mesma idade. Vem me chamar de tia que eu te enfio o cacete."

Coitado, com certeza o motorista era mais novo que ela.

"Vou matar aquele safado!"
"De quem que a senhora tá falando, não é de mim não, né?", perguntou o motorista.
"Aquele safado que me trocou por aquela vagabunda. Ah, mas eu mato. Só tenho que descobrir onde o safado tá morando agora. É nessa rua, Lourenço da Veiga, na Ribeira, só sei que fica perto da praia."
"Tem um monte de praia a Ribeira."
"Mas eu vou achar o safado. Vocês estão duvidando? Vou chegar lá , tenho que comprar o porteiro, vou perguntar 'O safado tá em casa? Ele tá acompanhado?', se ele disser que sim eu lhe dou 10 reais e fico lá esperando o safado descer com a piranha."
"Mas por que vai matar o cara? Vocês terminaram mal?", perguntou o garoto - antes eu achava que era uma mulher - que sentava ao lado dela.
"Só vou terminar matando. Pensa que vou dar mole assim pra urubu? Tá amarrado. Vou matar bonito."

Um casal que sentava no banco atrás do dela saltou na Praça do Grego. A mulher não perdeu a chance:

"Olha o chifre!", disse, enquanto o cara saía. Quando a kombi passou por eles, o casal se beijava. A velha trepou no trocador e enfiou a cabeça pela janela: "Pega mesmo, beija gostoso!!!!" E voltando pra dentro: "Corajosa ela, de beijar um corno."

Todo mundo na kombi só rindo, eu inclusive. O garoto e ela trocavam sussurros escutáveis:

"Se quiser deixa esse cara pra lá e vai lá pro quiosque onde eu trabalho. Lá tem muito macho."
"Muito macho mermo? Olha que eu vou, hein? Nesses quiosques eu vejo só mulher..."
"Onde eu trabalho só tem homem."

O garoto saltou logo depois, na Praia da Bica. A mulher não deixou pra depois:

"Esse aí é gay. Tá vendo os trejeitos? Não tenho dúvida. Mas não pode ter preconceito não, menino, a vida tá aí pra gente viver como quiser, o importante é ser feliz, não importa como. Eu já peguei muito homem na minha vida, e vou te dizer, homem é muito bom. Eu, na minha época dos 20 anos, vivia pegando homem, não passava um que não me dirigisse o olhar."

Acredito. Passamos pelo Sunshine, um motel que fica no final da Praia da Bica.

"Esse Sunshine aí... Todo dia eu tava aí namorando, não me escapava um. Tem uma garagem subterrânea, o carro descia assim... Ih, eles fizeram reforma, não era assim não."
"Eles fecharam essa entrada, por cima. Agora, só dá pra entrar lá por baixo, pela praia", esse foi o trocador.
"Você já foi, motorista, aí no Sunshine?"
"Eu não, nunca fui."
"Ahhh, tá com vergonha de falar, né, mas foi sim, bonitão desse jeito..."

Passou um tempo calada.

"Ai, que calor, meu Deus do Céu, me abana, vai, menino, vou sentar na janela que é mais fresco, não posso chegar lá pra pegar meu macho de volta toda suada, toda feia, né? Tenho que ir assim, bonitona de nascença, cheirosinha... Mas, como eu ia dizendo, na época dos meus 20 anos peguei muito homem, principalmente fuzileiro... Esse aí é fuzileiro... Gosto muito de fuzileiro naval... Fuzileiro e da Aeronáutica... Ia praquela praia ali do Bananal, nossa, tem vinte anos que não vou à praia, e aqui da Ilha então, essas praias eram tão limpas, dava até pra namorar lá dentro da água, agora tudo virou esgoto. O Bananal já passou?"
"Já, sim, senhora."

Mentira. O Bananal é lá do outro lado, a kombi nem passa por lá pra ir pra Ribeira.

"Ia muito praquela praia do Bananal, sabe onde é? Ali do lado, onde tem aquela vaca. Vaca não, é onça. A onça em cima da pedra, a praia onde tem a onça em cima da pedra. Ali tem aquele batalhão do Exército [não é batalhão, é reserva da Marinha...], cansei de pegar aqueles oficiais musculosos ali... Ali é Exército ou Marinha?"
"Ali é Marinha", disse o motorista.
"Então, cansei de pegar fuzileiro ali, muito bom, muito bom. Aquele safado vai me pagar..."

Saltou o cara que estava do meu lado, com fone no ouvido, alheio às divagações da senhora, no batalhão da PM.

"Olha só, maior cara de bandido. Ninguém diz, né, mas esse aí é bandido. Eu conheço quando vejo um... Eu já te paguei?"
"Pagou não."
"Paguei sim, te dei 2 reais, não vem com essa conversa não... Só tenho 5 reais pra voltar pra casa, se eu te der o que tenho, como eu volto? A pé? Você não pode esquecer, hein? E eu, então, sou inesquecível, né verdade, motorista?"

O motorista nem retrucou. Melhor não contrariar. E ela não tinha que ter mais dinheiro pra subornar o porteiro do prédio do tal fuzileiro?
Estávamos perto do mangue.

"Onde tá a praia?"
"A praia tá aqui atrás, a gente tem que ver que rua é essa de que a senhora tá falando", o trocador se virou pra mim - só restávamos eu e ela de passageiras - e perguntou se eu sabia onde ficava essa rua, eu respondi que não. "Deve ser uma dessas ruas aqui perto da ACM, tem que ficar olhando as placas..."

Depois dessa começou o temporal e a mulher ficou reclamando que ia chegar lá pra matar o cara fedendo a cachorro molhado e, nisso, eu saltei na ACM. Com certeza deve ter falado uma gracinha a meu respeito. Ninguém merece...

domingo, 22 de novembro de 2009

Dia do zumbi

E aí, como foram de feriadão? Feriado é bom, né? Principalmente quando cai numa sexta-feira e o fim de semana é antecipado: menos um dia de trabalho, de estudos, de acordar cedo, de aturar ônibus cheio, um calor desgraçado, gente suada. Mais um dia para o nosso descanso, muito merecido.

Mas não entendo até hoje a criação desse feriado da Consciência Negra, dia 20 de novembro. Não digo que seja desnecessário - nem necessário, porque o que o Brasil mais tem é feriado -, e não digo isso por causa do descanso. Acho importante sim um dia em homenagem aos negros, que tanto fizeram e fazem parte da História do país, além de importantes para a construção da identidade do povo e da cultura brasileira. O que não entendo é o dia da Consciência Negra ser exatamente no dia 20 de novembro.

A data foi concebida pelo projeto de lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, por ser o aniversário de morte de Zumbi dos Palmares, o líder do Quilombo de Palmares e principal representante da luta do negro contra a escravidão que morreu no ano de 1695, em combate. Desde então é tido como um herói nacional.

Mas há algum tempo li em alguma publicação - acho que foi a revista Superinteressante - ter sido provado pelos historiadores e estudiosos do assunto que toda esta história é uma farsa. Zumbi pode ter sido sim um grande líder, mas diz-se que era carrasco, maltratava os companheiros e que a história da traição de um antigo parceiro, Antônio Soares, que culminou em uma emboscada para capturá-lo e matá-lo não passa de lenda para inflar ainda mais seu martírio. Pelo que contam ele foi casado com uma branca e teve cinco filhos. Devido à sua importância, teve o status de rei entre os negros que o cultuavam como a um deus e por causa disso ele chegou a ter escravos. Como assim?

O Quilombo dos Palmares era uma comunidade autossustentável formado por escravos fugidos das fazendas. Ocupava uma área próxima ao tamanho de Portugal (!) e era ocupado por aproximadamente 30 mil pessoas. Zumbi nasceu livre, mas foi capturado por um missionário português aos 6 anos que o batizou de Francisco. Aos 15 anos ele fugiu, e dez anos mais tarde já tomava as decisões do Quilombo contra determinações portuguesas e desafiava o então líder de Palmares, Ganga Zumba. Com o argumento de que não era justo que os quilombolas fossem libertados e os outros negros continuassem escravos, prometeu liderar a rebelião e resistir contra a Coroa.

No entanto, alguns autores defendem a ideia de que os escravos que se recusavam a ir para o Quilombo eram capturados e convertidos em cativos. Ou seja, eram escravos de escravos. A Luta de Palmares não seria uma revolta contra a escravidão como um todo, mas uma recusa da própria. Que consciência é essa?

***
Ah, hoje é feriado em Niterói - dia de Arariboia, um índio. Só para efeito de curiosidade: Arariboia é tido como um representante da cidade do outro lado da ponte, como muita gente sabe - ele tem até uma estátua em frente à estação das barcas -, mas, na verdade, o dito cujo nasceu aqui, na Ilha do Governador - pra dizer mais a verdade ainda, aqui do lado da minha casa (rs). Ele lutou ao lado dos portugueses contra os franceses de Villegaignon e, por causa dessa atitude heroica, Mem de Sá (o governador do nome da Ilha) lhe deu uns lotes de terra onde? Em Niterói, para onde ele se mudou com sua família. ;D

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Maratona de Filmes Parte III

04/10 - Depois de O Hospedeiro e O bom, o mau e o feio - este da última edição do Festival -, assistir a um filme coreano é fichinha, assim pensei quando fui ver Sede de sangue (Bakjwi, Coreia do Sul, 2009), do mesmo diretor de Oldboy. O título é tosco, tudo bem, mas você deve se preparar para ver tosquices hilárias por mais de duas horas de filme (aliás, por que tão grande?). O ator mais popular do país - acho que ele faz todos os filmes produzidos lá, não é possível -, Kang-ho Song, interpreta um carismático padre que se submete a uma experiência que visa descobrir a cura para um curioso vírus. Apesar de a experiência fracassar, o padre sai vivo, mas com perturbadores efeitos colaterais: não pode expor a pele ao sol, se sente mais forte e tem sede de sangue. Após uma série de peripécias, convencido de que se transformou num vampiro, apaixona-se pela esposa fogosa de um amigo de infância bobalhão. Enquanto ele quer evitar matar pessoas inocentes para conseguir alimento, Tae-joo diverte-se com a situação de desespero e depravação. O filme é muito bom caso você goste de uma história regada a sangue e tosquices à moda coreana. Os atores, assim como todos do lado oriental do mundo, expressam-se exageradamente para dar ao filme um ar ainda mais hilário. Pretende-se um filme de terror cult, mas, assim como o excelente O Hospedeiro, não passa de um filme de terror trash bem pipoca.

06/10 - Filmes de guerra sempre foram um filão na cinematografia norte-americana. De Sem novidades no front (1930), passando sem dúvida pelos norte-americanos ...E o vento levou (1939), A ponte do rio Kwai (1957), Apocalypse now (1979), Platoon (1986) e A lista de Schindler (1993), pelo italiano A vida é bela (1998) e pelo bósnio Terra de ninguém (2001), a O resgate do soldado Ryan, as principais guerras pelas quais o mundo foi obrigado a presenciar foram muito bem representadas. Primeira Guerra, Segunda Guerra, Guerra do Vietnã, Guerra do Golfo... Não há mundo sem guerra e não há guerra sem mundo (como disse alguém aí que eu não lembro). E a Guerra do Iraque, e suas tentativas de desmoralização, é a bola da vez.


Assim como não há mundo sem guerra, não há guerra sem baixas. The Messenger trata particularmente disso: das mortes num mundo exterior, o mundo daqueles que permanecem vivos, do ponto de vista de dois soldados que são encarregados de dar a triste notícia às famílias. Woody Harrelson e Ben Foster vivem os mensageiros capitão Stone e sargento Montgomery, que devem seguir as rígidas regras de conduta enquanto a informação é transmitida - esperar apenas cinco minutos se o parente mais próximo não estiver presente, não tocar os familiares, não reagir violentamente, repetir exatamente o mesmo texto, não demonstrar emoção etc. Montgomery conhece a tragédia da guerra, já esteve lá e volta aos Estados Unidos como um herói, recebendo então a incumbência de se juntar a Stone. Acaba se envolvendo proibidamente com a viúva de um dos soldados a quem eles vão dar o recado.

The Messenger, do mesmo roteirista de Não estou lá, o filme sobre Bob Dylan, participou do Festival de Sundance e do Festival de Berlim e pode ser visto como um tipo de filme-denúncia: trata principalmente do orgulho do Exército americano de abordar a forma de lidar com a morte para com as famílias. Trata, sobretudo, das consequências terríveis que uma guerra inventada criou para os jovens soldados que agora retornam.

Continua...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Maratona de Filmes Parte II


02/10 - Gosto particularmente de filmes estrangeiros - leia-se não norte-americanos - por se aproximarem mais de produções independentes, sem muitos recursos financeiros e um roteiro bem amarrado e tenso. É o que acontece com Piquenique (Pescuit sportif, Romênia/França, 2008). O filme é curto, mas se estende pela sua tensão. O recurso da câmera tremida que faz as vezes de primeira pessoa é um tanto batido em filmes de suspense, como A bruxa de Blair tanto popularizou. Mas, a despeito do que os espectadores podem concluir a partir da sinopse, Piquenique não faz esse gênero. Mihai e Mihaela, um casal em crise, saem para passear e, no caminho, atropelam uma prostituta "acidentalmente", como se descobre logo depois. A mulher tem a ideia de escondê-la na floresta, com medo de represálias quando o crime viesse à tona. A partir daí, o casal e a prostituta embarcam numa situação cheia de segredos, emoções escondidas, discussões e desejos que beiram o experimentalismo. A crise da relação passa a uma crise de consciência, em que os envolvidos se encontram numa situação-limite e são obrigadas a deixar de lado seus princípios.

Logo em seguida fui ver Shirley Adams (Shirley Adams, África do Sul/EUA, 2009), um filme pra lá de arrastado que explora fortemente a fotografia e a expressão dos atores. Donovan ficou tetraplégico há um ano e sua mãe, Shirley Adams, luta sozinha - foi abandonada pelo marido quando ele não suportou a situação do filho - para manter a casa e cuidar do filho. Quando Tamsin, um estudante que faz trabalho voluntário no hospital da região chega a fim de ajudá-la com as tarefas, Shirley renova sua esperança em vez seu filho curado da depressão que o atormenta. No entanto, podemos perceber que os sentimentos e as emoções são delicadas e estão sempre à flor da pele, e independem da capacidade e da vontade de terceiros em superá-las. É um filme bonito, que explora a delicadeza das ações humanas e da solidariedade e, principalmente, o ilimitado amor de mão, mas, ao mesmo tempo, confere um ar de tragédia e estopor em tudo isso.

O último filme do dia foi O amor escondido (L'amour couché, França/Itália, 2007), também escolhido em cima da hora. O filme, de produção italiana mas falado em francês, conta com a atriz Isabelle Huppert, uma das francesas homenageadas do Festival, ao lado de Jeanne Moreau. Não posso dizer que se trata de um filme ruim: é extremamente arrastado e bate na mesma tecla inúmeras vezes. É a história de uma mulher internada numa clínica psiquiátrica depois de ter tentado cometer suicídio pela terceira vez. É um filme sobre a arte de amar. Danielle (Huppert), a protagonista, relata à psiquiatra suas maiores dificuldades decorrentes de uma gravidez indesejada e um casamento às pressas: a incapacidade de amar seu marido e, principalmente, a filha. O filme se pretende a um filme de arte, com várias digressões e fantasias, mas não consegue atingir este fim.

Continua...

Maratona de Filmes Parte I

Sim, eu sei que estou beeeem atrasada. Tenho várias postagens aqui engatilhadas, mas, cara, não tenho tempo de terminar de escrevê-las. Tempo é uma coisa preciosa pra mim - e silêncio também - e ultimamente tenho investido nele com muito trabalho... e algumas sessõezinhas de cinema porque também sou filha de Deus.

Então, depois deste último dia de repescagem do Festival do Rio - que teve início no dia 25 de setembro e terminou em 8 de outubro - que resolvi parar um pouco com tudo e falar dos filmes a que assisti nessas duas semanas de muita correria e diversão. Gosto do Festival devido à diversidade de países que participam, preferindo me arriscar com filmes da África do Sul, Romênia e Sri Lanka a assistir os mais pops norte-americanos. Acabei não escapando muito deles, e ainda perdi Abraços partidos, de Pedro Almodóvar, que eu ansiava muito, e desisti de Bastardos inglórios, pela proximidade da estreia. Consegui assistir a dez deles, um verdadeiro recorde depois de alguns anos sem frequentar o festival com afinco. Tinha feito um esquema (como você confere abaixo) para assistir a uns vinte filmes, embora soubesse que nunca poderia dar conta de tudo, pela disponibilidade e pelo dinheiro - mas por que não sonhar, né? hehe


30/09 - O primeiro dia teve um saldo positivo. Assisti a um filme italiano escolhido em cima da hora, justamente por não ter conseguido chegar a tempo de conseguir um ingresso para o filme de Almodóvar. Trata-se de Trio de damas e hábitos nupciais (Tris di donne i abiti nuziale, Itália, 2009), que ganhou o último Festival de Veneza. O título é infeliz, e ainda deixa uma interpretação ambígua que pode ser esclarecida pela sinopse do filme. Franco Campanella é um homem casado, pai de Giovanni e Luisa e precisa comprar um vestido para a filha, cujo casamento se aproxima. Apesar de ser um marido e pai amoroso e trabalhador, Franco se vê quebrado por ter perdido tudo no pôquer. Não há muito mais a se destacar no filme, além de uma belíssima trilha sonora e da ótima atuação de Martina Gedeck, atriz poliglota que fez A vida dos outros. É um filminho básico de se ver, mas que não ousa muito na direção.

Saí de Botafogo correndo a tempo de ver O desinformante! (The informant, EUA, 2009) em Copacabana. Se no primeiro filme, o título deixa a desejar, neste os tradutores fizeram bem seu trabalho. Steven Soderbergh dirige Matt Damon - seu companheiro na trilogia Onze (Doze, Treze) homens - neste filme hilário, adaptação do livro The Informant: a true story, que, por sua vez, conta a história verídica de Mark Whitacre, empresário do alto escalão de uma agroindústria que se torna informante para o FBI. Ouvi muita gente dizer que talvez Matt Damon concorra ao Oscar pelo papel. Ele é versátil, concordo, tem talento para a comédia - vide cenas hilárias de Treze homens -, consegue sair da pele do enigmático matador Jason Bourne para engordar a ponto de vermos ali onde era um tanquinho uma obscena barriguinha, deixar crescer bigode e usar peruca para interpretar Whitacre. Matt Damon aqui está para a comédia como Julia Roberts está para o drama em Erin Brockovich, também do diretor. Soderbergh, que tem a segunda parte de Che também exibida no Festival, conduz a história com muito humor, embora eu ache difícil de ser acompanhada inicialmente devido à linguagem complexa das histórias inventadas pelo protagonista. Dou mais destaque às pérolas que Whitacre solta quando faz digressões em off, como quando fala da frase bomba-relógio. Outro ponto alto do filme é a trilha sonora, que me fez lembrar os seriados de espião, tipo Agente 86.

Nas próximas postagens descrevo os outros quatro dias de overdose de Festival do Rio. Continua...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A menina que adora livros (Livros: Parte 1)

Fui iniciada no hábito da leitura quando ainda nem sabia ler. Quando era criancinha, antes de completar 5 anos, meu pai lia para mim as revistinhas da turma da Mônica e eu ia acompanhando os quadrinhos e os desenhos. Com certeza Seu Maurício de Sousa influenciou muita gente. Lia e relia, e eu sempre queria saber mais sobre as histórias, sempre tinha curiosidade de saber sobre tudo, de ler sobre tudo. Quando finalmente - e para o alívio dos meus pais - aprendi a ler, devorava os gibis com uma fome voraz, passava a ler os livros didáticos pedidos no colégio para o ano letivo quando as aulas ainda nem tinham começado e por aí fui.


Foi nesse caminho que li O pequeno príncipe pela primeira vez, aos 8 anos, e comecei a devorar os livros infanto-juvenis. Minha família sempre teve o hábito de ler e de incentivar a leitura. Percebendo que eu gostava da coisa, minha tia acabou por me transformar numa seguidora de livros de suspense (ao mesmo tempo que me apresentava os Beatles). Ela me deu o primeiro de muitos do gênero: era um exemplar do Círculo do Livro de A perseguição, um infanto-juvenil de Sidney Sheldon. Gostei, e fiz coleção dos livros do autor. Concordo que Sidney Sheldon, como muitos escritores de suspense ou policiais, adota uma fórmula fixa em que apenas muda os nomes dos personagens, os lugares e os temas. O mesmo acontece com Dan Brown e seus Código DaVinci, Anjos e Demônios etc. Sei que alguns de vocês podem achar que esses livros são feitos para vender e não acrescentam em nada. Mas, sabe, suspense é um gênero que cativa o leitor, que faz querer saber o que vai acontecer, e isso faz com que ele queira sempre ler mais e mais. E lhe abre as portas para os outros gêneros.

Aconteceu isso comigo. Parti para outras praias: Vargas Llosa, García Márquez, Verissimo, Saramago, Eça, Castelo Branco, Camus... Romancistas que despertaram uma reflexão mais aprofundada da literatura, mais voltada para o comportamento e a psicologia humanos. Não que eu concorde com a distinção e a divisão que fazem entre a literatura dita clássica e a de massa. Para mim, é tudo literatura, tudo tem algo a acrescentar, a enriquecer o leitor. Todos os livros levam à criação e à reflexão.

Não por acaso gosto de trabalhar em editora, com revisão. Passo o dia lendo livros, lidando com eles. Leio de autoajuda e de psicoterapia à tragédia rodriguiana. A literatura deve estar em constante renovação e metamorfose. O autor e o leitor transformam-se existencialmente ao longo do percurso, é uma transmissão de ideias, de conhecimento. À originalidade artística do escritor deve corresponder a inventividade hermenêutica do leitor. Ler é interpretar, e interpretar é participar. No lugar da contemplação ociosa, ou até mesmo preguiçosa, deve haver uma participação ativa e passional. É como Bachelard diz, o livro é um "aparelho de indução psíquica", ou seja, desperta no leitor a tentação de se expressar criativamente.

Ele está certo. Não há coisa melhor que folhear, degustar cada palavra, construir cada personagem e mergulhar na invenção. Ler estimula a capacidade criativa, a facilidade da escrita, enriquece o vocabulário e, ainda por cima, entretém. Não há coisa melhor ainda que conversar sobre a viagem à terra da sensibilidade e da reflexão. É nesse cenário de paixão que me preparo para ir à Bienal do Livro, a mais rica feira dedicada a esses blocos de papel que tanto me fizeram sentir medo, rir, chorar, conhecer e me apaixonar por esse mundo.

***
A Bienal vai acontecer entre 10 e 20 de setembro e abre às 9h nos dias úteis e 10h nos fins de semana. Para conferir a programção completa, acessem o site: http://www.bienaldolivro.com.br
Espero encontrar vocês lá!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A experiência que saiu do controle


Autocracia é a forma de governo em que o líder possui poder absoluto e ilimitado. O líder autocrata planeja permanecer para sempre no poder e promove um regime ditatorial em que a lavagem cerebral de seu povo é constante, a fim de que possam difundir sua ideologia e sua causa. Ainda que não haja uma ideologia ou uma causa bem determinadas.

Em A Onda (Die Welle, Alemanha, 2008), um professor de um colégio alemão resolve aplicar ao seu curso de autocracia - que dura apenas uma semana - a seguinte experiência: criar um microrregime autocrático em sala de aula para, pedagogicamente, fazer os alunos perceberem como os alemães aderiram ao nazismo.

É claro que há certas coisas inseridas aí. Primeiro, a própria culpa que os alemães carregam até hoje pela barbaridade que foram o Holocausto e o nazismo. No primeiro dia de aula, o professor em questão, Rainer Wenger (Jürgen Vogel) - descolado e popular entre os alunos, que curte punk rock e aparece na cena inicial vestido com a camisa dos Ramones -, pergunta aos estudantes se eles acham possível a Alemanha de hoje sucumbir a uma ditadura ou a um regime como o nazismo. A maioria reage, com a justificativa de que os alemães atuais já estão mais do que bem-instruídos sobre o assunto, ou seja, não haveria a menor possibilidade de isso acontecer.

Daí passemos ao segundo ponto: dois dos motivos para os alemães terem apoiado o nazismo nos anos 1930 foram a crise econômica em que a Alemanha se encontrava e a falta de motivação da população causada pela derrota na I Guerra e pela própria situação dramática em que vivia. Com uma situação dessa qualquer joão-ninguém, qualquer um que se destacasse com algumas ideias na cabeça e uma oratória brilhante seria adorado e visto como o salvador da pátria, literalmente. Eis que o tal cara era Hitler, um joão-mais-do-que-ninguém, que chegou prometendo mundos e fundos para tirar a Alemanha do fiasco. Mas, para isso, ele precisaria do apoio de cada um que desejasse o mesmo. E deu no que deu.

Não estou dizendo que o horror ocorrido durante a II Guerra tenha tido a permissão da população alemã. Os cidadãos apostavam num líder, num salvador, ou seja, naquele que os tiraria do pesadelo em que viviam, e não que matasse milhões e milhões de pessoas inocentes que nada tinham a ver com isso. Acontece somente que a vontade de sair do pesadelo custou a eles uma bela lavagem cerebral, que consistia em uni-los num grupo, eliminar os que não aceitassem a proposta e defender sua causa até a morte. Tudo para o bem da nação.

No microrregime experimentado por Wenger na sua turma de colegiais, podemos perceber todas estas características juntas. O que começa como uma experiência termina com obsessão, fanatismo e atos de vandalismo. Tudo isso acontece em apenas uma semana. Alunos antes preguiçosos, desmotivados, infelizes ou com conflitos domésticos passam a ter algo a se dedicar, viver por aquilo, uma razão pela qual lutar e defender, anulando o individualismo. Wenger, o führer, estabelece uma pequena ditadura interna, que deveria permanecer ali, entre as quatro paredes da sala de aula: os jovens só deveriam se dirigir a ele como Herr Wenger (e não apenas Rainer), só poderiam falar se autorizados e em pé, deveriam aprender a atuar em comunidade, uns ajudando os outros - separou os grupinhos e colocou alunos fracos e fortes lado a lado. Daí para a frente os alunos entenderam o "jogo" e entraram na dança: criaram um uniforme, um nome para o movimento - A Onda -, adesivos, logomarca, home page e até uma saudação. Angariaram simpatizantes, produziram festas e rechaçaram todos aqueles que se negassem a seguir os preceitos do regime. Ao fim de uma semana, os integrantes do movimento lotam um auditório inteiro, possuem uma ligação afetiva de pertencimento, como uma família, e a coisa sai muito do controle.

A Onda, o filme, é uma refilmagem de outro realizado para a TV - The Wave (1981) - e uma adaptação do livro de Todd Strasser, baseado num acontecimento que ocorreu num colégio de Ensino Médio norte-americano em 1967. O professor de história William Ron Jones simulou um regime totalitário fascista, fundamentado no lema "Strength through discipline, strength through community, strength through action, strength through pride" (Força pela disciplina, força pela comunidade, força pela ação, força pelo orgulho). Os alunos levaram tudo aquilo a sério e um deles perdeu uma das mãos ao lidar com explosivos. Jones foi demitido, enquanto Wenger, o professor da ficção, teve muito mais problemas.

Alguns espectadores podem achar que as transformações dos alunos ocorreram rápido demais. Afinal, o curso dura apenas uma semana! A linearidade do roteiro divide a narrativa em dias para, assim, acompanharmos dia a dia a mudança dos estudantes quanto a atitudes e à personalidade. No entanto, essa rapidez pode ser compreendida pela velocidade com que a lavagem cerebral atinge as pessoas. Marco (Max Riemelt), um rapaz calmo, jogador de polo aquático e apaixonado pela namorada, torna-se agressivo e violento. A namorada, Karo (Jennifer Ulrich), por outro lado, é mostrada, no início do filme, como uma menina cheia de vontades, mandona e louca para se livrar dos pais extremamente liberais. Ela é uma das que não seguem o movimento criado por Wenger e o alerta inutilmente para a situação que se está formando.

O final - calma, não vou contar - é espetacularmente brilhante para um filme, mas absolutamente terrível para ter acontecido na vida real. O diretor, Dennis Gansel, consegue transferir a mensagem da alienação, do poder que as palavras exercem sobre uma pessoa - inclusive se esta pessoa passa por problemas e for jovem. O poder de limar com as próprias opiniões para ser aceito, para pertencer a algum lugar, para ser querido por outrem. O poder do desenvolvimento pela ordem, pela igualdade e pela proteção por estar em uma comunidade. O poder de entrar na onda.

***
1- William Ron Jones, o professor que originalmente adotou a experiência, foi coautor do filme The Wave, feito para a TV, e participou da premiere mundial de Die Welle no Festival de Sundance do ano passado.
2- Como não poderia ser mais a ver, um blog foi criado para divulgar o filme, onde podemos encontrar dados sobre a experiência e o trailer: http://seguindoaonda.blogspot.com/
3- Aqui está o artigo que Ron Jones escreveu sobre a experiência, "The third wave": http://web.archive.org/web/20080211081934/http://www.vaniercollege.qc.ca/Auxiliary/Psychology/Frank/Thirdwave.html
4- No site a seguir, há depoimentos de ex-alunos e de Ron Jones, em que ele confessa ter cometido um erro terrível e que a curiosidade falou mais alto: http://www.ronjoneswriter.com/wave.html

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Menos as neuróticas

Nelson Rodrigues já era Nelson Rodrigues quando foi convidado pelo dono do jornal Última Hora para escrever sobre as tragédias e mazelas da sociedade suburbana carioca na coluna "A vida como ela é..." entre os anos 1950 e 1970. Dentre as crônicas publicadas pelo jornal, Elas gostam de apanhar destaca 26 delas dedicadas ao universo feminino, ainda que as mulheres nem sempre sejam as protagonistas - mas são sempre elas que desencadeiam ou resolvem os acontecimentos.

Escrever como Nelson Rodrigues não é difícil: uma pitada de suspense, de drama, de humor, de polêmica, a linguagem do cotidiano, uma carga de paixão, o apelo ao adultério, ao incesto, ao ciúme... Junta-se tudo isso e cria-se uma história à moda do dramaturgo (que faria 97 anos ontem se não tivesse morrido em 1980 interrompendo sua brilhante carreira). Mas o que faz de Nelson único são as criativas conclusões das crônicas, na maioria das vezes surpeendentes.

Os personagens femininos são predominantes na obra do escritor. Em Elas gostam de apanhar, elas são mães, esposas, filhas, irmãs e, invariavelmente, cumprem seu respectivo papel. A mulher, na época de Rodrigues - época em que casamento era para sempre, os filhos viviam na barra da saia das mães, as viúvas vestiam luto eterno - e na cabeça do próprio escritor, servia de mau exemplo aos leitores por suas ações, por seus pensamentos muito modernos para o tempo ao qual pertenciam. As 26 crônicas selecionadas demonstram isso: mulheres que não têm medo de enfrentar o preconceito ou o atraso da sociedade, lutam contra seus medos e se permitem certas vontades. Se não há amor no casamento, por que não buscá-lo fora dele? Se o professor bonitão é casado, por que não matar sua esposa "acidentalmente"? Se seu marido foi um santo de homem em vida, é melhor investigar direito...

Ao mesmo tempo que exercita sua veia liberal, algumas vezes Nelson Rodrigues não escapa do conservadorismo dos valores morais de sua época. Mães que se aproveitam de um certo complexo de Édipo, mães que trocam a vida conjugal para dedicar-se à criação dos filhos, filhas que tomam conta das mães mais assanhadas são comuns em suas histórias. Nelson Rodrigues reinventa as notícias de jornal, recriando um novo tipo de ficção - a ficção jornalística que tantos autores depois insistiram em imitar. Nenhum chegou aos pés do toque dramático e poético que deu aos fatos policiais contados sob o olhar objetivo do jornalismo.

No entanto, os tempos mudaram, a sociedade se transformou. Hoje talvez Nelson Rodrigues não escandalize tanto quanto polemizou e quebrou barreiras em sua época. O escritor e jornalista não via as mulheres como simples passarinhos numa gaiola, passarinhos sem voz - dentro e fora de casa. Não admitia que fossem tratadas como ignorantes, como livres do pecado, livres do mal. Ninguém está livre disso. Não importa que sejam adúlteras, ciumentas ou possessivas: importava-lhe que as mulheres tivessem atitudes e, mais que tudo, sentimentos. Que não bancassem a cega ou a moça desprotegida no meio do tiroteio. E, em Elas gostam de apanhar, Nelson Rodrigues cumpre a promessa: as mulheres assumem suas vontades. É batata! Elas gostam de apanhar - menos as neuróticas, claro.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Brega e tosca

Venho aqui fazer uma pequena elucubração acerca da novela Caminho das Índias, a única que eu vejo (felizmente atualmente). Não que eu goste. Se for para dizer que gosto de alguma parte da novela posso arriscar somente a parte da trama que se passa na Índia, cujos atores e cenas são infinitamente melhores que o resto. Vide o duelo de titãs que os espectadores testemunharam esta noite, entre Opash (Tony Ramos) e Shankar (Lima Duarte), filho e pai - mas eles não sabem desse dado peculiar. Além do bom elenco, a cultura indiana é motivo para boas risadas, apesar de um certo exagero em alguns momentos.

Todo mundo já sabe que a novela é brega, e as novelas da Glória Perez, sejam ambientadas na Índia, no Marrocos ou nos Estados Unidos, são bregas. Mas vamos ao que interessa. A pequena elucubração se deve à sequência que foi ao ar no final do capítulo de segunda-feira e início de terça. A tontinha Nanda (Maitê Proença) aparece no apartamento do ex-amante Mike/Eric (Odilon Wagner) com pistola em punho desejando a morte do golpista sob o testemunho ocular de Ivone (Letícia Sabatella). Eis que a mulher me dispara uma bala em slow motion, bem (ou mal) a la Matrix, e a sequência é cortada com a dita cuja passando na frente dos olhos espantados de Ivone. Tosco é pouco.

Beleza. O cara morreu então? O capítulo de terça-feira abre com a sequência horrivelmente brega, e a bala, ainda em slow motion, acerta em cheio o braço do infeliz, que, ainda em slow motion, cai estabanado no sofá. As reações apavoradas de Ivone e Nanda foram enriquecidas com... mais slow motion. Como pode isso, gente? A breguice é tanta que superou a péssima direção de outra sequência antológica da novela nesses últimos dias (falo sobre isso mais abaixo). Parece que o responsável pelos efeitos especiais quis mostrar que aprendeu a fazer esse efeito e pegou a primeira cena que apareceu na frente para aplicar seu aprendizado. Aff...

A única coisa que se salvou desta cena foi a maquiagem feita em Ivone (ela de novo) para simular o olho roxo e a cara amassada que Melissa (Christiane Torloni) lhe deixou. Ao descobrir que o marido (Humberto Martins) deu as joias que ela tanto queria à amante psicopata, Melissa enfiou a mão na cara de Ivone no banheiro de um spa. Vê-se aqui que o motivo da pancadaria não foi a traição propriamente dita, mas porque a outra ganhou as joias que a oficial tanto ambicionava. Como a psicopatia está na mente e não nos músculos, Ivone apanhou bizarramente. Mas os espectadores não puderam constatar, de fato, a sincronia do movimento de mãos de Melissa e a virada de rosto de Ivone. Isso quando acontecia de o diretor mostrar o rosto da mulher, que ficou a maior parte do tempo escondido atrás de móveis ou objetos. Já houve tantas cenas do gênero na telenovela brasileira (minhas favoritas são o arranca-rabo entre Donatela (Claudia Raia) e Flora (Patrícia Pillar) - ah, que saudade da Flora - e a porrada que Maria Clara (Malu Mader) deu em Laura (Cláudia Abreu), também num banheiro). Além da tosquice, a câmera pegou uns ângulos pelos quais a pancadaria parecia ser ainda mais fajuta. Coisa de novela mexicana. E o que foi aquele uivo gutural de Ivone ao ser deixada estropeada pela rival no fim de tudo?

Talvez o diretor queira unir o brega e o tosco que já se fazem presentes nas novelas de Glória Perez à breguice e à tosquice da direção e da trama. Algumas cenas são tão encheções de linguiça que o espectador se pergunta, quando acaba um capítulo: "O que aconteceu hoje?" Flashbacks demais, cenas forçadas demais... - ai, que saudade da minha A Favorita. Isso sem falar nos alertas que Glória nos arrouba a assistir quando os personagens Ivone e Tarso (Bruno Gagliasso) aparecem. Quando Ivone dá uma de psicopata desvairada, com todos os sintomas à vista, ou quando Tarso tem uma de suas loucas crises, quem vem nos socorrer? O doutor Castanho (Stênio Garcia), com aquelas intermináveis explicações sobre a psicopatia ou a esquizofrenia. Não tendo como encaixar essas explicações, optaram por enfiar o Dr. Castanho e aquele estagiário burro de psicologia no meio de um cena de Ivone ou Tarso, interrompendo a linearidade da novela.

Peço o retorno da nossa inesquecível psicopata favorita - não há ninguém como ela! -: Flora. Invade essa novela horrenda e mata todo mundo, com aquela delicadeza e a manipulação que só você tem (tinha). Sem breguices e sem tosquices, sangue, psicopatia e pancadaria de primeira qualidade.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A arte de fazer partir

Filmes sobre a morte no cinema americano passam despercebidos de sua mensagem moral por carregar junto uma carga de drama muito comum na cultura ocidental. Já para os orientais a morte é um tema bastante delicado. Pelo menos foi o que pensei quando li a sinopse de A Partida e fiquei em dúvida entre assistir a esse filme ou a Os falsários em pleno Dia dos Namorados. "Poxa", pensei, "assistir a um filme só de velórios num dia comemorativo não dá." Optei pelo filme alemão, mas só agora percebi o meu erro por ter tido aquele pensamento tão estereotipado.

A Partida (Okuribito, no original em japonês, e Departures, em inglês) não é nem de longe um filme triste - ok, talvez um pouquinho, pois eu chorei em duas passagens meio "lições de vida". É um filme sublime pela sensibilidade do roteiro em tratar de um assunto muito pouco confortável para os japoneses: a cerimônia de noukan, o ritual de purificação dos mortos que prepara-os para realizar a passagem - a partida - para o outro lado.

A morte não é um assunto fácil de lidar por nenhum povo no mundo, independente da religião ou da cultura. Nas sociedades orientais, no entanto, há dois detalhes que tornam o assunto um pouco mais complicado: a superstição e o preconceito. No Japão, existe até hoje uma superstição com o número 4 que todos devem conhecem de tanto ouvirem falar. A leitura do número 4 em japonês é "shi", que também significa morte - "morrer", por exemplo, em japonês, é "shiru". Por isso, o número tornou-se amaldiçoado naquele país: uma casa cujo número é 4 é malvista pelos vizinhos; alguns hospitais não possuem quartos com a numeração; e algumas empresas simplesmente não operam no 4º andar. O 7 e o 9, combinados com o 4, podem soar como previsões de morte para um doente e por aí vai.

É claro que estes costumes perduram atualmente apenas no interior do país, onde os mais velhos perpetuam e fortalecem a cultura milenar contando histórias e experiências vividas (ou não) às gerações que vão surgindo. Imaginem então uma pessoa que lida diariamente com os mortos, pior, que toca neles todos os dias, ainda que seja num ritual de purificação de profundo respeito (no ponto de vista ocidental) de facilitar a passagem das almas ao mundo espiritual com cuidado e dignidade.

Se, por um lado, a função de um okuribito (junção de "okuri" (enviar) e "hito" (pessoa), ou seja, pessoa que envia) pede coragem àqueles que a exercem e oferece paz àqueles que perderam o ente querido, por outro, é vista como degradante pela preconceituosa sociedade local. E é nesse percalço que vive o protagonista Daigo Kobayashi (Masahiro Motoki), um violoncelista cuja orquestra se dissolve e se vê perdido, sem emprego, de uma hora para outra. Surge-lhe a ideia de pagar as dívidas e voltar para a cidade natal, Yamagata, onde algumas das características da cultura japonesa superaram a chegada da tecnologia e da modernidade - como a casa de banhos mantida por uma senhora que resiste à compra do terreno para a construção de um prédio de condomínios.

Kobayashi, acompanhado pela esposa, Mika (Ryoko Hirosue), volta a uma Yamagata reconstruída (ou destruída) pelas lembranças tortuosas de sua infância dolorosamente marcada pelo abandono de seu pai, que fugiu com outra mulher, quando tinha apenas seis anos. Foi do pai que Kobayashi recebeu o incentivo para tocar o violoncelo, instrumento responsável, aliás, pela maravilhosa trilha sonora que percorre todo o filme - e que contribui para o espectador demonstrar toda a sua emoção, o que me fez lembrar a belíssima música de Ennio Morricone na cena clássica de Cinema Paradiso (me afoguei de chorar nesse filme).

Mas quem acha que vai dormir de tanto acompanhar cerimônias de noukan (que, diga-se de passagem, são meio monótonas, como a maioria que existe na cultura japonesa - nem eu tenho paciência) engana-se. Na primeira hora e meia de filme, acompanhamos com muito humor e sutileza a mudança na vida de Kobayashi e sua adaptação na empresa que faz a preparação dos cadáveres. As caras e bocas de Masahiro Motoki me lembraram bastante as expressões bem exageradas dos mangás/animes e do cinema japonês em geral. Foi uma saída bastante viável encontrada pelo roteirista Kundo Koyama e pelo diretor Yojiro Takita para não transformar o filme numa monótona aula de "como-realizar-um-funeral-no-Japão".

É nessa mistura de humor, delicadeza e preconceito que residem a beleza e a poesia do filme: mostrar que não é com tristeza que se conta a morte mas como a arte de fazer partir e o orgulho de exercer esta atividade podem transcendê-la.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Histórias de Mulheres

Semana passada terminei de revisar um livro muito bom. Chama-se Histórias de Mulheres, da escritora espanhola Rosa Montero. Para quem não a conhece, ela é colunista exclusiva do jornal El País e já publicou mais de vinte livros - o mais famoso já lançado no Brasil acho que é A filha do canibal. Já entrego um spoiler: a editora Agir vai lançar o seu novo romance lá para o ano que vem. A única coisa que posso dizer é que se trata de um livro excelente. Sugiro que passem a conhecê-la desde já.

Entre romances, livros infantis e perfis biográficos é neste último gênero que Histórias de Mulheres se encaixa. A autora traça o perfil de uma série de mulheres famosos, que, pela alegria ou pela tristeza, pela loucura ou pela sanidade, pela fama ou pelo desconhecimento, pela perturbação interior ou exterior, deixaram a sua marca na História.

Por muito tempo as mulheres foram consideradas alienadas ou bruxas por subverteram seu papel. Neste livro, Rosa Montero destaca histórias de algumas mulheres que enfrentaram todo o desgaste de uma sociedade machista e lutaram pela dignidade, pela liberdade e pelo reconhecimento. As mulheres do livro são: Agatha Christie, Mary Wollstonecraft (que ficou mais conhecida como a mãe de Mary Shelley, aquela do Frankenstein), Zenobia Camprubí, Simone de Beauvoir, Lady Ottoline Morrell, Alma Mahler, Maria Lejárraga, Laura Riding, George Sand, Isabelle Eberhardt, Frida Kahlo, Aurora e Hildegart Rodríguez, Margaret Mead, Camille Claudel, as irmãs Brontë e Irene de Constantinopla. Faço uma prévia das histórias de que mais gostei a seguir:

Agatha Christie - a dama do suspense sofreu nas mãos de um homem que não a amou e só queria saber de jogar golfe, mas que lhe deu sua única filha, Rosalind, e o sobrenome que a tornaria conhecida em todo o mundo. Morreu aos 80 e poucos anos, mas os biógrafos da escritora não a consideravam sã, apesar de ela ainda ler e comentar filósofos e linguistas famosos.

Frida Kahlo - a famosa pintora mexicana lutou pela vida, pelo amor e pelo amor que tinha pela vida. Infelizmente uma série de tragédias pessoais (aquela do bonde, em que um corrimão entrou por um flanco e saiu pela vagina, não foi a primeira), inclusive desilusões amorosas, marcou toda a sua vida profundamente. Se Frida não conseguiu viver muito, ao menos sua obra levou seu nome para a posteridade: as cores fortes, os autorretratos e a firmeza de caráter, apesar de seu aspecto frágil, fizeram com que ela ofuscasse a carreira já firmada de seu marido, o já consagrado pintor Diego Rivera.

Camille Claudel - poucas pessoas conhecem a escultora que lutou, justamente, por toda a sua vida pelo reconhecimento de seu talento. Seu maior erro, no entanto, foi ter-se tornado "pupila" e amante do aclamado Auguste Rodin (sim, aquele d'O Pensador), que sufocou-a financeira e intelectualmente. Os dez anos que passaram juntos foram os de maior criatividade de Rodin, claramente influenciado pelo estilo característico de Claudel. Infelizmente os críticos de arte só foram perceber o talento natural e puro de Camille anos após sua morte. A escultora amargou seus últimos trinta anos de vida aprisionada pela mãe e pela irmã num hospício nos arredores de Paris, sendo referida apenas como a amante de Rodin e a irmã de Paul Claudel, um famoso (nunca ouvi falar!) escritor.

Aurora e Hildegart Rodríguez - esta foi a primeira história que me chocou pela perversidade e a cegueira da mãe em realação ao filho. Dona Aurora sabia que uma mulher só poderia destacar-se na sociedade através de sua inteligência e conhecimento. Por isso, projetou esta vida em sua filha, Hildegart, que, aos 3 anos de idade, já lia e escrevia; aos 5, falava fluentemente mais de cinco línguas; e aos 14, participava de congregações da juventude socialista e redigia artigos para os jornais. Sua infância consistiu em estudar dia e noite e dona Aurora, rígida, não permitia que tivesse amigos ou se estendesse muito numa conversa. Em sua ânsia por liberdade, Hilde decidiu viajar à Inglaterra e, ao discutir a possibilidade com a mãe numa noite, na manhã seguinte dona Aurora matou a filha com quatro tiros. Ela tinha apenas 18 anos. O mais chocante foi a frase ditada pela mãe para se defender no tribunal, que descreveu seu ato como sublime, pois "fácil é trazer um filho ao mundo, mas difícil é tirá-lo". Louca varrida.

As irmãs Brontë - a mais conhecida das irmãs certamente foi Emily Brontë que escreveu um único romance mas considerado obra-prima da literatura universal: O morro dos ventos uivantes. Emily tinha ainda mais quatro irmãs (Maria, Elizabeth, Charlotte e Anne, sendo que as duas primeiras morreram ainda jovens e as duas outras toranaram-se escritoras como ela) e um irmão caçula, Branwell, o único a receber uma educação decente apenas pelo fato de ser do sexo masculino. Perdeu a mãe cedo, mas ao menos teve a sorte de ter um pai culto e liberal. Como viviam numa choupana distante, os irmãos se isolaram num mundo de fantasia e não faltou muito para se iniciarem no mundo dos livros. Charlotte, Emily e Anne tornaram-se orgulho para o pai e escritoras elogiadas, embora fossem conhecidas por pseudônimos masculinos. Charlotte Brontë foi a única que sobrou após a morte prematura das irmãs e escreveu muitos romances, dentre eles Jane Eyre.

Irene de Constantinopla - nenhum ato de violência é justificável. Contra um filho, pior ainda. Mas Irene tinha um motivo, digamos, "plausível": a sede de poder. Seu marido morreu (dizem, por envenenamento) e o trono ficou vago. Os cunhados de Irene tentaram tomar posse, já que o único herdeiro era ainda uma criança. Suas línguas foram cortadas e foram obrigados a virar monges. Conseguiu o apoio da Igreja contra aqueles que malviam uma mulher no trono. Depois de um tempo, Constantino, o filho, conseguiu destronar a mãe e trancafiou-a num palácio por dois anos. Seu erro foi soltá-la: ela retomou o poder e ordenou que os globos oculares de Constantino fossem retirados. Os cunhados tentaram novamente tomar o poder, tendo o mesmo destino que Constantino (ou seja, viraram monges, cegos e sem língua). O pior de tudo é que a Igreja Católica considera Irene de Constantinopla uma santa, apenas pelo fato de ela ter incentivado o culto às imagens dos santos. E olha que ela nem frequentava a igreja...

Embora o livro seja intitulado Histórias de Mulheres, Rosa Montero prova que as mulheres não conseguiram livrar-se da sombra de uma sociedade machista, independente de suas origens e de suas épocas. Ou seja, mesmo como protagonistas, elas não são capazes de serem desvinculadas dos homens de suas vidas - sejam eles pai (irmãs Brontë), marido (Agatha, Frida), amante (Camille) - ou por homens que ideologicamente não deveriam nem existir - como o filho herdeiro do trono de Irene e uma paixão impossível de Hildegart.

Se elas não foram devidamente reconhecidas em vida, os escritos e as pesquisas biográficos cumprem essa promessa: como se o registro as livrassem do esquecimento.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Cadê Midori?

Se você está perguntando onde está esta blogueira que há mais de dez dias não atualiza o espaço, não se preocupe, ela não morreu. Compadeçam-se de mim, pois estou escrevendo a "maldita", "aquela-de-quem-não-se-deve-dizer-o-nome", que começa com "mono" e termina com "grafia".

Não desistam de mim! Não é por falta de assunto, mas de tempo. O tempo está escasso - para atualizar aqui e para escrever a maldita -, meu cérebro está pifando, minhas olheiras estão enormes, minha saúde está debilitada, mas, se tudo der certo - e tem que dar certo! -, semana que vem eu voltarei!

"See you in another life, brotha."
(Desmond Hume - Lost)

*Só para não perder o hábito de falar sobre a série hehehe (Minha mono tem tudo a ver com o assunto rs)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Sobre o amor e a amizade

Sempre achei ter necessidade de uma amiga íntima que fosse comigo pra tudo quanto é canto. Uma amiga que se identificasse comigo, que gostasse das mesmas coisas, mesmos shows, mesmo papo. Uma amiga que estivesse na mesma sintonia.

Tenho várias amigas - e, quero deixar claro, adoro todas elas, moram no meu coração. Hoje tenho até mais amigas mulheres que antigamente e fico muito grata por terem enchido a minha vida de flores, risadas e carinho. Fico muito grata também por elas me ouvirem quando chateada e apararem minhas lágrimas quando triste. Quando tentam me animar quando entediada. Quando me aconselham ou são sinceras demais, quando preciso de um puxão de orelha. Tenho amigas íntimas sim, e sou muito grata a elas por compartilharem comigo segredos ou desabafos e por me proporcionarem momentos cheios de alegria, mesmo que de vez em quando apareçam algumas faíscas. hehehe (Mas são apenas fagulhas e a gente sabe separar bem as coisas.)

No entanto, a amiga que eu queria - que tivesse os mesmos gostos, as mesmas vontades, o mesmo estilo - nunca apareceu. Talvez por isso eu tenha emendado um namoro atrás do outro - porque o namorado, apesar de não ser mulher (!), é de uma forma um amigo íntimo que se identifica mais ou menos com você (embora eu possa ter errado quanto a essa interpretação algumas vezes). Frequentam os mesmos lugares, curtem as mesmas coisas, essa identificação o torna interessante e rola aqueeeele papo. Aí a coisa fica mais interessante ainda e vocês começam a namorar - eu nunca fui de ficar ficando e depois namorar. Simples assim.

Mas essa coisa de emendar um namoro no outro acabou me impossibilitando de ter um tempo só para mim, para me redescobrir e para tentar achar essas amigas. Entrei num ciclo vicioso: namorava porque não tinha uma companheira de aventuras e não tinha a companheira de aventuras porque namorava. (Aliás, aproveito o espaço para pedir desculpas aos amigos que acabei deixando de lado enquanto namorava. Meus namoros acabaram me isolando do mundo e não porque eu quisesse hehe)

Enquanto namorava, por incrível que pareça, fiz várias amizades masculinas. O bom de ter amigos homens é que eles sempre me faziam enxergar uma situação por ângulos diferentes. Ou seja, o ângulo masculino. rs Isso me ajudou muito para entender certas coisas, e fico grata a eles por aturarem com paciência masculina as minhas reclamações femininas.

Por isso, por um tempo, acabei ficando mais amiga dos meninos que das meninas, pois me identificava mais com eles - a não ser quando falavam de mulher e futebol... (As meninas às vezes falam uma língua muito complicada e eu me sentia completamente fora do ninho. Balaiage, luzes, manicure, depilação, homens fortes e musculosos, sapatos e bolsas da moda? Não deixo de ser mulher nem de ser feminina, mas sempre preferi tênis a sandálias, calça a vestido, nunca pintei meu cabelo e não ligo para moda. Tampouco gosto de homens fortes e musculosos!)

Eis que terminei um namoro longo e complicado e resolvi mudar a minha vida. E mudei mesmo. A essência continuou a mesma - e o cabelo também -, mas quanta diferença! ;D Comecei a sair, a ficar (não muito!), a voltar de manhã, a beber. Coisas que nunca tinha feito antes - e os meus pais piraram. Por um tempinho, curti a vida adoidado. Conheci pessoas novas, fiz amigos novos, tive hábitos novos. Mas aí começou a bater aquela falta de novo.

Sabe quando as pessoas, para te consolar, dizem "É só você olhar em volta que vai perceber que tem um monte de gente que gosta de você"? Eu nunca levei muito a sério, mas dessa vez eu olhei em volta. E o mais legal é que eu descobri um amigo. Não uma amiga como eu queria, mas, tudo bem, nada é perfeito.

Descobri um pouco atrasada esse amigo, já que a gente já se conhecia um pouco superficialmente de andar na faculdade e morar no mesmo bairro. E foi uma ótima descoberta, melhor impossível: na hora certa. Gostamos das mesmas coisas, do mesmo estilo musical - tirando as músicas latinas breguinhas -, discutimos cinema, literatura... Temos praticamente a mesma opinião sobre certas coisas e o mesmo pensamento sobre a vida. Saímos algumas vezes juntos e pensei ter encontrado "a amiga" que tanto procurava. Pensei que pudéssemos ir para tudo que é canto, que ele me mimasse e fizesse tudo o que eu quisesse - porque os homens sempre mimam as mulheres, sejam elas amigas, namoradas, mães ou irmãs.

Não só pensei como tudo isso se materializou. E, de brinde, descobri o quanto ele é fofo, carinhoso, inteligente, interessante e, principalmente, amigo. Só que aí... Seria impossível não acontecer e eu não deixaria que não acontecesse. Não o deixaria escapar. O amor foi mais forte e viramos namorados. Por mais que eu quisesse ficar sozinha, sem namorado e curtir um Dia dos Namorados mergulhada na solidão, o meu desejo de ter alguém do meu lado com quem me identificasse - e, ainda por cima, ele, um homem como poucos, o último da prateleira - era muito mais forte.

A conclusão desse love story é que ele não terminou - e tomara que não termine. Estamos aí, firmes, fortes e felizes. A nossa amizade se aprofundou e o namoro foi um bônus - um bônus, diga-se de passagem, para lá de bom! ;D

(Esta é uma declaração de amor e amizade. Quero dizer aos meus amigos - mesmo aqueles com que perdi contato, que moram longe, que somem e que não ligam no meu aniversário rs - que vocês são muito importantes para mim. E quero dizer a este amigo em especial, o que virou namorado, que ele me faz sentir completa, segura e apaixonada. Espero que saiba disso.)

Feliz Dia dos Namorados a todos!
(Se não tem namorado(a), arrume um amigo(a). Quem sabe, né? rs)

(Gabriel, eu te amo muito.)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Sete vidas


Há tantas coisas que eu gostaria de fazer
Queria ficar em um avião por 13 horas
e não pensar em nada,
só viajar com a mochila,
ter novas experiências,
conhecer o mundo
Só queria que houvesse tempo
para descobrir quem eu sou,
descobrir do que eu gosto,
fazer coisas, experimentá-las
e parar de pensar tanto...

Eu gostaria muito de correr.
Às vezes eu penso nisso.
Eu só... sinto aquela vontade de correr!

*Trecho retirado do filme Sete vidas, que conta a história de um homem que decide ajudar sete pessoas, entre elas uma mulher, pela qual se apaixona, condenada à morte. É sobre amor, vida, humanidade e morte. Se você for ver, leve um lenço. T_T

sexta-feira, 5 de junho de 2009

E o próximo a ser encontrado morto é...

Acho que está na moda entre os astros e estrelas de Hollywood "ser encontrado morto". Porque é assim que os jornais anunciam a morte de alguém famoso ultimamente. Por que não falam "Morreu hoje, aos 72 anos, o ator David Carradine..."? Mas não: "Foi encontrado morto hoje pela manhã..."

Será que talvez para preservar o mistério, a memória do ator e criar um mito? A la Marilyn Monroe? Até hoje não se sabe se a diva loira morreu acidentalmente por overdose de remédios, se ela se matou de tão deprê que estava ou se foi assassinada por saber demais... Não sei se encontraram já a causa mortis de Heath Ledger, mas especulações não faltaram para aumentar ainda mais o mistério da morte do ator. Ele estaria devendo dinheiro a traficantes de drogas e foi apagado? Não aguentou a pressão do estrelato e se matou? Entrou em depressão por causa do drama de interpretar um personagem barra-pesada como o Coringa e tomou mais remédios que deveria?

Heath Ledger sim tem motivos para ser transformado em mito - além de ter morrido de causas desconhecidas e circunstâncias suspeitas -: um mito por sua atuação no cinema, vencedora, muito bem merecida, do Oscar de melhor ator este ano. Assim como quando Rita Hayworth interpretou Gilda e a personagem ficou eternizada.  A própria Monroe e seu vestido esvoaçante em O pecado mora ao lado também - nesse caso, o vestido ficou ainda mais eternizado. rs

A primeira suspeita é sempre suicídio - Hollywood, pressão, muito dinheiro rápido, paparazzi, sexo, drogas e rock'n roll. E eles são sempre encontrados mortos em quartos de hotel (Marilyn não, foi em casa mesmo). David Carradine, coitado, não merecia tamanha humilhação. Casado, pai de duas filhas, um senhor de idade já, foi encontrado morto numa posição um tanto... inglória: pendurado, pelado, com o pescoço e o bicho de estimação amarrados pelas pontas de uma corda que passava pelo teto... Vai ter criatividade pra morrer assim lá... na Tailândia!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Bebê selvagem

Com tantos nascimentos acontecendo à minha volta, um seguido do outro - o próximo é o nosso Raulzito, que nascerá, aposto, no dia 13 de julho, o Dia do Rock (ele já tem até blog, é o Baby Leal Arman aí do lado) -, achei engraçada e muito fofa essa foto da bebê Anna Elíria, que nasceu há exatamente um mês.



A foto é da Casa de Saúde São José, que posta as fotos dos bebês recém-nascidos no site do berçário virtual. Queria saber quem são os loucos dos pais (rs) que colocaram essa roupinha na menina. Ficou bonitinha... Mas, tadinha, né? Isso não se faz... hahahaha

quinta-feira, 21 de maio de 2009

5 pílulas cinematográficas e 1 vexame

>> Não pude deixar de postar aqui tamanho foi meu choque. Sabe o filme Matrix? Sabe os diretores de Matrix, os irmãos Wachowski? Pois se eles se apresentavam como "irmãos" Wachowski não podem mais. O motivo: um dos irmãos virou irmã. É isso mesmo! Larry Wachowski passou por uma operação de troca de sexo recentemente e agora se chama Lana. Ele(a) já foi visto(a) de saia plissada, blusa decotada e cabelos loiros. E não acaba aí: trocou de estado civil também. Parece que se casou com uma mulher... que é homossexual. Ou seja, ele(a) era um homem que virou mulher para viver um amor lésbico? Vai entender...

>> Sean Penn e Robin Wright Penn desistiram de se separar pela segunda vez. Eles estão juntos desde 1996. É tão legal perceber que o amor em certos casamentos de Hollywood realmente é pra valer. Adoro o casal, tanto pelo carisma quanto pelo talento. Sean Penn ganhou recentemente seu segundo Oscar pelo político gay Harvey Milk e Robin Wright, para quem não lembra, é a eterna Jenny, paixão de toda uma vida de Forrest Gump. Ela fez um filme em que interpreta a mãe de uma menina estuprada, papel de Dakota Fanning. Acho que nem chegou a estrear no Brasil.

>> Michael Moore vai mais uma vez atacar o governo norte-americano. O diretor vai lançar o próximo documentário em outubro sobre a crise econômica mundial.  Famoso por seu tom debochado e suas críticas ácidas, Moore se tornou conhecido pelo filme Roger e eu, de 1989, em que mostrou o massacre econômico causado pelo declínio da General Motors em sua cidade natal.

>> Uma atriz chamada Lucy Gordon, de quem nunca ouvi falar, apareceu morta em seu apartamento em Paris hoje de manhã. Ela fez uma participação como a repórter Jennifer Dugan em Homem-Aranha 3. Não me lembro dela não, vocês lembram? Enfim, estão achando que ela se suicidou. Como sempre. (Mas nada de Oscar póstumo dessa vez rs)

>> Quentin Tarantino retorna ao Festival de Cannes com Bastardos inglórios, filme com o ator que só rejuvenesce - exceto por umas ruguinhas -, Brad Pitt. Diane Kruger (a Helena de Troia), Daniel Brühl (o fofo protagonista de Adeus, Lênin) e Mike Myers (é, aquele do membro de ouro) também fazem parte do elenco. Tarantino mistura bangue-bangue, nazismo e humor no filme que conta a história de uma tropa de judeus que extermina nazistas. Seu maior concorrente pela Palma de Ouro é Les herbes folles, de Alain Resnais. Competições à parte, nosso casal mais maravilhoso e cheio de filhos pra dar estava lá: Brad Pitt e Angeline Jolie estrelaram cenas de carisma e carinho público. Fofos e lindos. Particularmente, ele. hehe Absolutely!

>> Não é sobre cinema, mas entra aqui pelo tamanho da minha revolta. Até quando Susana Vieira vai viver? Pior, até quando esta velha sem-vergonha vai continuar se expondo como uma pessoa preconceituosa, problemática e mal-amada? Se eu tivesse como, condenava essa mulher à reclusão perpétua. A última que ela aprontou foi a extrema falta de educação - pra dizer o mínimo - contra a repórter do Vídeo Show Geovanna Tominaga. Tomou o microfone das mãos da apresentadora, conduziu a matéria e ainda disse que não tinha paciência com pessoas que estavam começando. Foi uma atitude de tremendo mau gosto e desrespeito ao próximo. Nunca vi. Tominaga, quando perguntada sobre o assunto, saiu pela tangente, dizendo que a atriz é muito espontânea. Lógico que não ia falar a verdade em público, tem que manter a classe, mas deve estar desabafando horrores com a mãe dela.