segunda-feira, 12 de julho de 2010

O melhor da Copa

O melhor da Copa não joga futebol, não apareceu nos gramados, não ficou no banco de reservas. O melhor da Copa não faz parte do trio de arbitragem, não é técnico nem locutor esportivo. O melhor da Copa é fofo, mas não chega a ser bonito.

O melhor da Copa se chama Tiago Leifert, o lourinho que dominou as quase madrugadas da Rede Globo em dias de jogo da Copa do Mundo. Entrou de serelepe numa participação no Jornal da Globo e ganhou um programa próprio apresentado depois do telejornal noturno, o Central do Copa, do qual virei espectadora assídua.


Eu não ligo para futebol, mas sempre gostei da movimentação e da paralisia que a Copa dissemina nos brasileiros. Em dia de jogo do Brasil ninguém trabalha, ninguém estuda, todo mundo volta cedo pra casa pra ver a Seleção brilhar. Tudo bem, infelizmente foi a Seleção que voltou pra casa cedo demais esse ano, mas a minha maior preocupação foi: o Central da Copa vai acabar?

Acontece que Tiago Leifert - jornalista, 30 anos, editor e apresentador do Globo Esporte paulista - inovou: colocou a espontaneidade, o carisma, o charme e o talento como comunicador à frente de um programa que vai ao ar num horário ingrato e ainda assim conquistou fama nacional. Central da Copa é divertido, muito bem editado, informal e interativo. A plateia fica à vontade e os convidados - outros jornalistas, cantores, jogadores de futebol, atores e atrizes - entram num clima de informalidade difícil de se encontrar em outra atração.

O sucesso foi tanto que há um movimento no Orkut e no Twitter para que a Rede Globo formalize uma proposta de programa para Leifert e seu parceiro incorrigível, o ex-jogador Caio Ribeiro (que parece um ursinho de pelúcia), apresentarem no ano que vem. A zoação entre os dois torna o programa ainda mais divertido e torna um assunto às vezes chato numa discussão acalorada. A pressão é tanta que já corre a notícia de que um dos diretores da emissora de fato esteja pensando na ideia. Tiago, no entanto, negou ter sido procurado sobre alguma proposta.

Tiago Leifert se junta à turma de Tadeu Schmidt, outro que inovou à frente da seção de esportes do Fantástico. Infelizmente hoje, com o final da Copa, foi ao ar o último Central - no qual ele estava impagável dançando o Rebolation junto com a chata da "argentina" Marina. Não faz mal. Esperamos 2014, esperamos por você, Tiagooooo!!!


domingo, 23 de maio de 2010

Hoje!


Não basta assistir. Tem que participar. E foi assim que Lost, cujo último episódio vai ao ar HOJE nos Estados Unidos, nasceu e mudou o jeito de se ver TV. Nada foi e nada será como Lost: um fenômeno mundial que está mobilizando milhões de fanáticos ao redor do mundo neste exato momento.

Lost partiu do desencadeamento de um (muitos!) enigma(s), e a busca por sua solução foi o motor que a impulsionou e manteve a narrativa. Pois bem. Inicialmente a série narra a história de um grupo de sobreviventes de uma queda de avião que se encontra numa ilha e só quer saber de ser resgatado e voltar para suas vidas medíocres e normais. Eventos estranhos acontecem, mas todos os mistérios servem apenas como obstáculos que os impedem de escapar dali. Não parte deles a curiosidade ou o impulso de encontrar respostas: o papel do detetive das séries policiais é desempenhado pelo próprio espectador, que busca em fontes preexistentes do mundo real - exterior à ficção - a relação entre personagens e filósofos, acontecimentos e fenômenos físicos. Lost incluiu referências do nosso mundo real - Bíblia, cinema, literatura, filosofia, história da arte e religião -, o que tornou a série bastante palpável aos espectadores fanáticos para decifrá-la.

A demora na revelação fez com que muitos espectadores desistissem da série no meio do caminho. O urso polar que aparece no meio de uma floresta tropical nos primeiros episódios da primeira temporada foi o que me chamou a atenção para assistir à série. O que aquele urso polar fazia ali? Me deixei hipnotizar pela estrutura novelesca, pelos mistérios e pela construção dos personagens e... acabei me envolvendo. Não consegui mais largar. Mas é bem plausível achar que os produtores nos devem respostas. Imagina assistir a uma série de mistério sem desvendar mistério algum? Afinal, o que move uma série de suspense é exatamente a recompensa. A resposta para o urso polar só nos foi apresentada na terceira temporada e, até lá, milhões de outros mistérios, maiores e mais importantes, já tinham aparecido para ocupar a minha cabeça.

Por outro lado, o mais legal de ter participado de todo esse fenômeno foi ter dado um real sentido ao verbo "participar". Perdi horas da minha vida procurando na Bíblia, na internet e em um monte de outros lugares respostas que explicassem decentemente todos aqueles mistérios. É um bom exercício se você pensa que poderá estar certo ou errado algum dia. A minha principal decepção nesta sexta temporada foi o fato de não poder saber se as minhas e as teorias que li por aí realmente se convencem. As respostas que eles resolveram nos dar jogaram nas coxas. Aprendi a deixar alguns mistérios de lado, sabia que não poderiam responder a todas as questões. A maior parte deles foi pura encheção de linguiça que não influenciariam na história como um todo. Não haverá respostas, tudo bem, não para tudo. Agora também não dá pra lamentar, só resta esperar o final. A grande pergunta do momento é: como tudo vai terminar?

E, olha, ao contrário do que imaginava estou bastante empolgada para assistir ao Lost finale - só amanhã, infelizmente. Estou empolgada porque passei por uma viagem maravilhosa que rendeu seis anos da minha vida. E amanhã, depois do último episódio, será literalmente the end, fim. Nunca mais vamos sentir o nervoso, o calafrio, a espera - a looooonga espera - entre temporadas... Pior que isso, nunca mais sentiremos a experiência que Lost nos proporcionou.

Essa obsessão nos remete a um outro patamar: a participação cada vez maior de consumidores quanto à produção e à difusão de informação - a chamada cultura da convergência. Lost é o maior exemplo disso: da TV, passando pelo celular, por videogames e principalmente pela internet, até chegar à nossa mesa redonda no bar. Lançou uma linha de produtos que complementam a trama original, promoveu o merchandising de camisas e bonecos - entre os mais vendidos em lojas especializadas - e foi o motivo da criação de centenas de blogs e sites sobre o tema, a fim de discutir os eventos ocorridos na série. Por isso, Lost é considerada a série mais famosa e de maior repercussão da década.

O produtor Damon Lindelof pediu em seu Twitter que evitássemos spoilers, pois inevitavelmente muita coisa vazaria, que guardássemos a surpresa para o final derradeiro.

Mas eu não me aguentei. Saí à cata de informações sobre a finale. Descobri alguns minispoilers que não significam muita coisa, e descobri também a mobilização que Lost causou neste domingo. Pra citar um exemplo, a prefeitura de Nova York instalou um contador em plena Times Square com os minutos faltantes para a series finale. Lost apareceu na capa de dois dos maiores jornais dos Estados Unidos e numa matéria do Clarín argentino, enquanto no O Globo foi a terceira matéria mais lida do site do jornal:


Dá até tristeza de saber que uma série deste calibre, que revolucionou a maneira de ver TV e contribuiu fatidicamente para o fim da passividade do espectador, está chegando ao fim. Valeu a pena esperar? Claro que valeu. Assim como tenho certeza de que, apesar de algumas decepções, terá valido a pena toda essa relação de amor e vício que Lost provocou em pessoas de todo o mundo quando "The End" chegar.

***
O que será de nós, após Lost?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Hoje!

Hoje é o 33º dia do ano.

Hoje eu fiz um ano na Ediouro.

Hoje eu li um livro inteiro.

Hoje eu almocei macarrão.

Hoje eu falei com o meu namoradinho.

Hoje saíram os indicados para o Oscar.

Hoje tem paredão.

Hoje o médico de Michael Jackson decidiu se entregar.

Hoje um alemão subiu o Empire State Building em dez minutos.

Hoje é aniversário da Shakira.

Hoje fez um calor de lascar.

Hoje seria o discurso urgente do presidente Obama - e ele adiou.

Hoje é o começo do fim da melhor série de TV de todos os tempos!

Hoje começa o evento mais aguardado do ano!

Aaaaaaahhhhhhhhhhhhhh!!!!!!

Destiny calls. Destiny found.

***
Quem não aguentar esperar até amanhã e/ou não conseguir baixar o episódio que vai ao ar nos Estados Unidos daqui a pouco e não liga pra spoilers pode ler o resumão postado neste madrugada no blog Lost in Lost em www.lostinlost.com.br

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Feliz ano-novo

O que eu mais detesto nas datas festivas de fim de ano é o tradicionalismo medonho e a monotonia que se abate na sociedade em geral - além da proximidade do meu aniversário e, pior!, do Carnaval. Para qualquer lado que você olhe, ouve musiquinhas natalinas irritantes, vê pessoas se esfregando pela rua à procura de presentes cada vez mais baratos, shoppings lotados de retardatários, reportagens nada originais na TV...

É nessa monotonia que Rubem Fonseca ambienta o primeiro conto do livro Feliz ano novo. É no abismo social entre a classe burguesa e a marginalizada, entre a necessidade e a futilidade, entre a perspectiva de um réveillon feliz e farto, que o meu atual escritor brasileiro favorito faz um relato - por que não? - divertido e realista da própria natureza humana. No primeiro conto, homônimo, ele narra os planos de três assaltantes mortos de fome, que precisam catar comida de macumba para ter o que comer, para assaltar a mansão de "granfas". É a violência descrita como um meio de expressão, um grito de socorro. Na última história, "Intestino grosso", o autor descreve uma entrevista pingue-pongue, na qual o entrevistado parece ser ele mesmo. As perguntas e as respostas parecem ter sido uma compilação das entrevistas que Fonseca possivelmente concedeu ao longo de sua carreira. Sexo, pornografia, psicologia, erotismo, linguagem e literatura são alguns assuntos tratados no conto, ou seja, temas que permeiam a sua obra. São os dois contos que mais valem a pena ser lidos no livro lançado em outubro de 1975, que teve sua circulação e publicação proibidas em todo o território nacional pelo Departamento de Polícia Federal, sob a alegação de "exteriorizar matéria contrária à moral e aos bons costumes".

Das mesmas acusações sofreu Nelson Rodrigues, vinte anos antes, ao chocar a leitura do leitor mais conservador com os pecados e as tragédias da classe média carioca de então. Rubem Fonseca, assim como o jornalista precursor, surpreende ao narrar depravações, putarias, cenas de sexo explícito e assassinatos sem motivo. Para o senador Dinarte Mariz, em declaração publicada na Folha de S.Paulo de 1977, suspender Feliz ano novo foi pouco. "Quem escreveu aquilo deveria estar na cadeia e quem lhe deu guarida também. Bastaram meia dúzia de palavras. É uma coisa tão baixa que o público nem devia tomar conhecimento."

Para a cabeça dos conservadores, pode até ser. Mas para os liberais de hoje, e até mesmo para os daquela época, Feliz ano novo não é motivo para tanto estardalhaço. Excetuando-se alguns poucos textos, quem conhece o autor vai perceber que os protagonistas são crus demais, não ousam tanto e que o autor se mostra até muito bonzinho para o seu padrão. Por isso, destaco apenas os contos já supracitados, além das duas partes de "Passeio noturno", em que ele mostra seu sangue-frio perverso. A violência, o melhor recurso da obra de Rubem Fonseca tão presente em Feliz ano novo, é a tradução para a ficção da realidade que vemos todo dia na TV, do tradicionalismo e da monotonia em que a nossa tragédia coletiva e particular se insere.

Como relata Zuenir Ventura para a revista Visão, de 1975, "o que inquieta no livro é que esse mundo marginal distante se vai aos poucos revelando como nosso próprio mundo, onde os desvios são cada vez mais a norma".


***
No décimo-quarto dia do ano (beeeem atrasada - eu estava trabalhando, gente!), venho aqui desejar um feliz ano-novo a vocês por aí que perdem de vez em quando (quase nunca) alguns minutos do dia pra ler meu blogzinho. hehe