sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Uma questão sobre rodas

Algumas semanas atrás aquela fantástica novela das 21h - felizes são aqueles que não a veem - começou com uma discussão que me interessou. Uma questão sobre ética, egoísmo, futuro e sobre rodas.

Acho que mesmo quem não perde seu preciosíssimo tempo vendo uma novela que simplesmente não tem história e onde bons atores são desperdiçados sabe do que está rolando. A personagem da bocuda Alinne Moraes ficou tetraplégica depois de despencar de um penhasco durante uma viagem a trabalho. Beleza. A partir daí seguiu-se o tormento e o martírio desta jovem modelo, que tinha a vida toda pela frente, uma carreira bem-sucedida a seguir, quando, !, o chão desaparece sob seus pés e ela se vê imóvel - involuntariamente - na cama de um hospital. (Aliás, a descrição da revista Veja para a boca da atriz quando seu corpo está inerte foi sensacional. tentei achar uma foto que mostrasse a boca enorme dela, mas só achei essa aí acima. rs)

Então, antes da tragédia, a nossa bocuda preferida namorava e estava prestes a se casar com o arquiteto machista Jorge (Matheus Solano). bateu o pezinho pra ir à Jordânia fotografar contra a vontade do futuro noivo, eles brigaram, terminaram tudo, o ônibus despencou e deu no que deu. Chegando aqui, Jorge bancou o rapaz certinho como sempre foi - ao contrário do irmão gêmeo (na foto acima) meio louco que namora uma alcoólatra e arrasta uma asa pra cunhada agora tetraplégica -: levou flores, visitou, disse que a ama, pediu desculpas pela briga blá blá blá A sogra - a maravilhosa (mesmo, sem sarcasmo!) Lilia Cabral -, percebendo o andar da carruagem, tirou Jorge prum canto e fê-lo prometer que se casaria com a menina e ficaria ao lado dela, já que era neste momento que ela mais precisaria dele.

Aí entra em cena a mãe do dito cujo lembrando ao filho de que ele não pode prometer uma coisa dessas, pois tem uma vida inteira pela frente e não pode desperdiçá-la com uma tetraplégica que não tem chance de melhorar num futuro previsível - tudo bem, não foi assim que ela falou, mas estou resumindo a história. Ele argumenta que não pode deixar a bocuda nesse momento, que seria muito canalha se fizesse isso, mas fica com aquela pulga atrás da orelha. A mãe fica desesperada, dizendo que sempre sonhou uma vida normal para o filho, uma vida profissional cheia de sucessos, viagens e um casamento tranquilo, com netos correndo pela casa e tudo o que uma família precisa para ser feliz como num comercial de margarina.

Só que... ela é tetraplégica... Tetraplégica, e dizemos aqui com chance remota de voltar a andar. O que o rapaz deve fazer? Pensar nele mesmo, sair da vida da mulher à francesa - afinal de contas, abandone mas não precisa magoar, né? -, levar sua vida como se nada tivesse acontecido, como se não devesse nada a ninguém, viajar à vontade, casar e ter filhos com outra? Ou manda todas as mulheres que dão mole pra ele catar coquinho, finca o pé dizendo que amor vence tudo, ignora todo o futuro de conforto para ficar de enfermeiro ao lado da mulher amada, além de sofrer todas as restrições que um deficiente sofre hoje em dia?

Por um lado é egoísmo abandonar a menina. Por outro, é desesperador ter que dizer não à própria vida - uma vida que ele sempre sonhou, que sempre quis pra ele - para ajudar a amada a dizer sim à vida dela. Onde se encaixam a ética e o amor quando se tem tanta coisa em jogo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário