quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Brega e tosca

Venho aqui fazer uma pequena elucubração acerca da novela Caminho das Índias, a única que eu vejo (felizmente atualmente). Não que eu goste. Se for para dizer que gosto de alguma parte da novela posso arriscar somente a parte da trama que se passa na Índia, cujos atores e cenas são infinitamente melhores que o resto. Vide o duelo de titãs que os espectadores testemunharam esta noite, entre Opash (Tony Ramos) e Shankar (Lima Duarte), filho e pai - mas eles não sabem desse dado peculiar. Além do bom elenco, a cultura indiana é motivo para boas risadas, apesar de um certo exagero em alguns momentos.

Todo mundo já sabe que a novela é brega, e as novelas da Glória Perez, sejam ambientadas na Índia, no Marrocos ou nos Estados Unidos, são bregas. Mas vamos ao que interessa. A pequena elucubração se deve à sequência que foi ao ar no final do capítulo de segunda-feira e início de terça. A tontinha Nanda (Maitê Proença) aparece no apartamento do ex-amante Mike/Eric (Odilon Wagner) com pistola em punho desejando a morte do golpista sob o testemunho ocular de Ivone (Letícia Sabatella). Eis que a mulher me dispara uma bala em slow motion, bem (ou mal) a la Matrix, e a sequência é cortada com a dita cuja passando na frente dos olhos espantados de Ivone. Tosco é pouco.

Beleza. O cara morreu então? O capítulo de terça-feira abre com a sequência horrivelmente brega, e a bala, ainda em slow motion, acerta em cheio o braço do infeliz, que, ainda em slow motion, cai estabanado no sofá. As reações apavoradas de Ivone e Nanda foram enriquecidas com... mais slow motion. Como pode isso, gente? A breguice é tanta que superou a péssima direção de outra sequência antológica da novela nesses últimos dias (falo sobre isso mais abaixo). Parece que o responsável pelos efeitos especiais quis mostrar que aprendeu a fazer esse efeito e pegou a primeira cena que apareceu na frente para aplicar seu aprendizado. Aff...

A única coisa que se salvou desta cena foi a maquiagem feita em Ivone (ela de novo) para simular o olho roxo e a cara amassada que Melissa (Christiane Torloni) lhe deixou. Ao descobrir que o marido (Humberto Martins) deu as joias que ela tanto queria à amante psicopata, Melissa enfiou a mão na cara de Ivone no banheiro de um spa. Vê-se aqui que o motivo da pancadaria não foi a traição propriamente dita, mas porque a outra ganhou as joias que a oficial tanto ambicionava. Como a psicopatia está na mente e não nos músculos, Ivone apanhou bizarramente. Mas os espectadores não puderam constatar, de fato, a sincronia do movimento de mãos de Melissa e a virada de rosto de Ivone. Isso quando acontecia de o diretor mostrar o rosto da mulher, que ficou a maior parte do tempo escondido atrás de móveis ou objetos. Já houve tantas cenas do gênero na telenovela brasileira (minhas favoritas são o arranca-rabo entre Donatela (Claudia Raia) e Flora (Patrícia Pillar) - ah, que saudade da Flora - e a porrada que Maria Clara (Malu Mader) deu em Laura (Cláudia Abreu), também num banheiro). Além da tosquice, a câmera pegou uns ângulos pelos quais a pancadaria parecia ser ainda mais fajuta. Coisa de novela mexicana. E o que foi aquele uivo gutural de Ivone ao ser deixada estropeada pela rival no fim de tudo?

Talvez o diretor queira unir o brega e o tosco que já se fazem presentes nas novelas de Glória Perez à breguice e à tosquice da direção e da trama. Algumas cenas são tão encheções de linguiça que o espectador se pergunta, quando acaba um capítulo: "O que aconteceu hoje?" Flashbacks demais, cenas forçadas demais... - ai, que saudade da minha A Favorita. Isso sem falar nos alertas que Glória nos arrouba a assistir quando os personagens Ivone e Tarso (Bruno Gagliasso) aparecem. Quando Ivone dá uma de psicopata desvairada, com todos os sintomas à vista, ou quando Tarso tem uma de suas loucas crises, quem vem nos socorrer? O doutor Castanho (Stênio Garcia), com aquelas intermináveis explicações sobre a psicopatia ou a esquizofrenia. Não tendo como encaixar essas explicações, optaram por enfiar o Dr. Castanho e aquele estagiário burro de psicologia no meio de um cena de Ivone ou Tarso, interrompendo a linearidade da novela.

Peço o retorno da nossa inesquecível psicopata favorita - não há ninguém como ela! -: Flora. Invade essa novela horrenda e mata todo mundo, com aquela delicadeza e a manipulação que só você tem (tinha). Sem breguices e sem tosquices, sangue, psicopatia e pancadaria de primeira qualidade.

2 comentários:

  1. realmente eu nem vejo essa, aliás, nenhuma. a única que me orgulho de dizer q vi TODOS os capítulos possíveis, foi a Favorita... Diferente e com qualidade do começo ao fim.
    Volta FLora!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  2. Não perde nada não assistindo a essa. Eu mesma só vejo porque a minha mãe vê, a TV está ligada, aí vc acaba sendo absorvido pela trama. Com A Favorita, se vc perdesse um capítulo, vc perdia uma vida. Todos os dias acontecia alguma coisa importante. Era frenético, do começo ao fim. Caminho das Índias só serve para te divertir, de tão ruim que é. :P

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