quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Um beijo delicado


Dezembro é o mês internacional da aids. Vocês já devem ter visto em pontos de ônibus, outdoors e propagandas na TV uma nova campanha do Ministério da Saúde em homenagem ao Dia Mundial de Combate à Aids em que um casal sorodiscordante - ou seja, quando um tem o vírus e o outro não - se beija apaixonadamente. (Aliás, que beijo é aquele, de tirar o fôlego, meu Deus.)

Um amigo me perguntou o que achava dessa campanha. Ela enfatiza a luta contra o preconceito em relação aos soropositivos. O menino tem o vírus HIV e a menina não. Quando terminam de se beijar, o menino continua com o vírus e a menina continua sem. É, de fato, criativa, prazerosa, bonita de se ver, direcionada aos jovens, respondi. Mas respondi também que talvez essa propaganda possa ser mal compreendida, principalmente pelos adeptos do sexo sem proteção e pelas pessoas sem informação.

Afinal, o que nós, pessoas instruídas, podemos concluir do beijo? Que uma pessoa com vírus pode beijar - beijar, beijar, beijar! - à vontade, sem preocupação, pois já foi provado não ser possível o contágio através da saliva. (Quer dizer, mais ou menos: se o soropositivo e sua namorada tiverem um corte grande na boca, o vírus pode passar por ali.)

O slogan da campanha é "Viver com aids é possível. Com preconceito não", e ela foi distribuída em várias partes do país (como mostra a foto abaixo) e do mundo. Na França, um beijo gay foi repudiado e censurado. É luta contra o preconceito ou não é?


No entanto, acho que a campanha - pelo menos no Brasil - está incompleta. Não é todo mundo que tem acesso à informação, que tem educação o suficiente para discernir sobre o que pode e o que não pode ser feito numa relação sorodiscordante. A propaganda não relata isso. Menciona a saliva, o toque... mas não menciona que sexo deve continuar sendo praticado com preservativos. A campanha só diz para o espectador manter-se informado, entrar no site do Ministério da Saúde e tal, mas se livra da responsabilidade dos atos que essa imagem pode causar. Uma pessoa mal informada pode entender: "Ah, se eu posso beijar, sentar ao lado, eu posso transar também" e libera geral. Acho mais importante dizer como se pega o vírus do que enfatizar como não se pega. Mas aí furaria o tema da campanha. O que conta mais?

***
Para mais informações, entre no site: www.todoscontraopreconceito.com.br
Para assistir à propaganda da TV, acesse: http://www.youtube.com/watch?v=C6rT10z84_c&feature=related

3 comentários:

  1. Ótimo post, Midori !!
    Não tinha visto antes a propaganda da tv, só o busdoor.

    Po.. beijão bom mesmo essa da tv ^^ mandaram muuuito bem no beijo.
    Quando eu vi a campanha do busdoor, eu achei que fosse um beijo gay. Tinha achado muito ousado mas que seria total tiro no pé.. Agora vendo a campanha direito vi que é uma mulher.. menos mal.

    Total de acordo com a tua opinião (isso é raro, hein?)sobre a falta de discernimento das pessoas e a falta de uma explicação maior na campanha.
    Por outro lado iria perder todo o foco da campanha, que é contra o preconceito e não contra a prevenção.
    Por outro lado,
    Muita gente ainda está se infectando todo o ano, mas o indice de pessoas infectadas por ano está estabilizado (não está aumentando)

    Então pode ser a hora certa de uma campanha dessas contra a discriminação do Aidetico (mas nao da aids)

    Uma boa saida seria um bom destaque para um link de um site explicativo pertencente a campanha.

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  2. Achei meio homofóbico seu comentário...

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  3. uma correção e uma explicação sobre o meu comentario:

    correção - "Por outro lado iria perder todo o foco da campanha, que é contra o preconceito e não *sobre* a prevenção."

    explicação - O "menos mal" que eu disse por ser um beijo hetero e não um beijo gay não tem relacao alguma com homofobia..

    as primeiras vitimas da aids realmente foram os gays masculinos e durante muito tempo a aids ficou estigmatizada por ser doença de gays e bissexuais e drogados, e as campanhas atuais lutam justamente pra mostrar que nao é assim.. que nao existe mais grupo de risco, todo grupo é grupo de risco.
    (Tanto que agora tem campanha contra aids voltada para mulheres acima de 40 anos - que nao cresceram com o risco da aids)

    Concluindo, uma campanha que juntasse beijo gay e Aids seria um tiro no pé por justamente por relacionar gay e aids.

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