domingo, 23 de maio de 2010

Hoje!


Não basta assistir. Tem que participar. E foi assim que Lost, cujo último episódio vai ao ar HOJE nos Estados Unidos, nasceu e mudou o jeito de se ver TV. Nada foi e nada será como Lost: um fenômeno mundial que está mobilizando milhões de fanáticos ao redor do mundo neste exato momento.

Lost partiu do desencadeamento de um (muitos!) enigma(s), e a busca por sua solução foi o motor que a impulsionou e manteve a narrativa. Pois bem. Inicialmente a série narra a história de um grupo de sobreviventes de uma queda de avião que se encontra numa ilha e só quer saber de ser resgatado e voltar para suas vidas medíocres e normais. Eventos estranhos acontecem, mas todos os mistérios servem apenas como obstáculos que os impedem de escapar dali. Não parte deles a curiosidade ou o impulso de encontrar respostas: o papel do detetive das séries policiais é desempenhado pelo próprio espectador, que busca em fontes preexistentes do mundo real - exterior à ficção - a relação entre personagens e filósofos, acontecimentos e fenômenos físicos. Lost incluiu referências do nosso mundo real - Bíblia, cinema, literatura, filosofia, história da arte e religião -, o que tornou a série bastante palpável aos espectadores fanáticos para decifrá-la.

A demora na revelação fez com que muitos espectadores desistissem da série no meio do caminho. O urso polar que aparece no meio de uma floresta tropical nos primeiros episódios da primeira temporada foi o que me chamou a atenção para assistir à série. O que aquele urso polar fazia ali? Me deixei hipnotizar pela estrutura novelesca, pelos mistérios e pela construção dos personagens e... acabei me envolvendo. Não consegui mais largar. Mas é bem plausível achar que os produtores nos devem respostas. Imagina assistir a uma série de mistério sem desvendar mistério algum? Afinal, o que move uma série de suspense é exatamente a recompensa. A resposta para o urso polar só nos foi apresentada na terceira temporada e, até lá, milhões de outros mistérios, maiores e mais importantes, já tinham aparecido para ocupar a minha cabeça.

Por outro lado, o mais legal de ter participado de todo esse fenômeno foi ter dado um real sentido ao verbo "participar". Perdi horas da minha vida procurando na Bíblia, na internet e em um monte de outros lugares respostas que explicassem decentemente todos aqueles mistérios. É um bom exercício se você pensa que poderá estar certo ou errado algum dia. A minha principal decepção nesta sexta temporada foi o fato de não poder saber se as minhas e as teorias que li por aí realmente se convencem. As respostas que eles resolveram nos dar jogaram nas coxas. Aprendi a deixar alguns mistérios de lado, sabia que não poderiam responder a todas as questões. A maior parte deles foi pura encheção de linguiça que não influenciariam na história como um todo. Não haverá respostas, tudo bem, não para tudo. Agora também não dá pra lamentar, só resta esperar o final. A grande pergunta do momento é: como tudo vai terminar?

E, olha, ao contrário do que imaginava estou bastante empolgada para assistir ao Lost finale - só amanhã, infelizmente. Estou empolgada porque passei por uma viagem maravilhosa que rendeu seis anos da minha vida. E amanhã, depois do último episódio, será literalmente the end, fim. Nunca mais vamos sentir o nervoso, o calafrio, a espera - a looooonga espera - entre temporadas... Pior que isso, nunca mais sentiremos a experiência que Lost nos proporcionou.

Essa obsessão nos remete a um outro patamar: a participação cada vez maior de consumidores quanto à produção e à difusão de informação - a chamada cultura da convergência. Lost é o maior exemplo disso: da TV, passando pelo celular, por videogames e principalmente pela internet, até chegar à nossa mesa redonda no bar. Lançou uma linha de produtos que complementam a trama original, promoveu o merchandising de camisas e bonecos - entre os mais vendidos em lojas especializadas - e foi o motivo da criação de centenas de blogs e sites sobre o tema, a fim de discutir os eventos ocorridos na série. Por isso, Lost é considerada a série mais famosa e de maior repercussão da década.

O produtor Damon Lindelof pediu em seu Twitter que evitássemos spoilers, pois inevitavelmente muita coisa vazaria, que guardássemos a surpresa para o final derradeiro.

Mas eu não me aguentei. Saí à cata de informações sobre a finale. Descobri alguns minispoilers que não significam muita coisa, e descobri também a mobilização que Lost causou neste domingo. Pra citar um exemplo, a prefeitura de Nova York instalou um contador em plena Times Square com os minutos faltantes para a series finale. Lost apareceu na capa de dois dos maiores jornais dos Estados Unidos e numa matéria do Clarín argentino, enquanto no O Globo foi a terceira matéria mais lida do site do jornal:


Dá até tristeza de saber que uma série deste calibre, que revolucionou a maneira de ver TV e contribuiu fatidicamente para o fim da passividade do espectador, está chegando ao fim. Valeu a pena esperar? Claro que valeu. Assim como tenho certeza de que, apesar de algumas decepções, terá valido a pena toda essa relação de amor e vício que Lost provocou em pessoas de todo o mundo quando "The End" chegar.

***
O que será de nós, após Lost?