A questão é que agora fiquei sabendo que além de “velha”, digamos, socialmente, ano que vem começa o martírio da minha velhice mental. Uns cientistas dos Estados Unidos – possivelmente cinquentões –, mais especificamente da Universidade da Virgínia, fizeram uma pesquisa – possivelmente querendo vingar-se dos jovenzinhos que, aliás, eles já foram um dia – que enfiou a faca: a velhice começa aos 27.
Não é qualquer velhice, Você ainda tem o coração forte, o fígado meio castigado dependendo da sua vida social, mas o seu cérebro, ó, já começa a minguar. Segundo a revista Superinteressante, quando uma pessoa completa 30 anos, a sua cachola já sente uma sensível queda de desempenho. A função que vai embora em maior quantidade da sua cabeça é a inteligência espacial: 50% de queda. 50%!! É muita coisa! Eu nunca tive muita noção de desenho e muito menos de visualizar uma pirâmide dentro de um cubo nas aulas de geometria espacial no colégio, ou seja, já vou perder os 50% da capacidade que me restava.
Outra função que diz tchau pra você é o raciocínio lógico (37,5% de perda), outra coisa que também nunca tive bem claro na cabeça. “Se chover, Maria não vai à praia. Então, se ela não foi à praia é porque choveu”? Não sei, não conheço a Maria pra saber. :P
Depois você vai perder (ou já perdeu, sorry) 27,3% da velocidade mental e, por incrível que pareça, 17% da memória. Logo a memória, função que tem menor queda de desempenho, é a que recebe mais críticas de seus “usuários”. “Eu não lembro o que comi hoje no almoço”< “Eu esqueço onde guardo as minhas meias”, “Não sei quem você é”, “De onde eu te conheço?”, “Ih! Semana passada foi aniversário da minha sogra!”: tenho certeza de que muita gente, assim como eu – lógico, não fujo à regra –, já passou por situação semelhante. Por que a gente esquece tanta coisa?
É verdade que o cérebro é um contêiner sem fundo, ou seja, você pode inserir quantas informações quiser, elas sempre estarão lá. Você se “esquece” não porque elas se perderam naquela escuridão sombria, mas sim porque não as utiliza constantemente. Aquela fórmula da lei geral de Clapeyron que você aprendeu na 8ª série em química ainda está aí na sua cabeça, pode acreditar. Mas como não usa há muito tempo – e por que precisaria? rs –, você se esqueceu.
Outro motivo para esse esquecimento precoce é a enorme quantidade de informações que recebemos todos os dias: ler jornais, livros, revistas, ouvir ao rádio, fuxicar a internet, trabalhar e até mesmo receber ordens do chefe ou fazer comprar no supermercado enchem a sua cabeça numa velocidade incrível. Os jovens de hoje – e podem ser incluídos nesse grupo os “velhos” pós-27 anos – estão sempre se movimentando, já nascem conectados, a internet, de fato, aumentou drasticamente a velocidade e a quantidade de informações que entram na cachola. E é óbvio que, junto com um monte de coisa boa, entram também coisas ruins, como o estresse. Então, o lance é ficar ligado em tudo – não precisa se alienar, se isolar do mundo, porque o resultado será igual – e, ao mesmo tempo, saber equilibrar esse “tudo” para que seu cérebro não te carregue para um colapso.
Tá, mas por que tudo isso acontece? Acontece porque o auge da atividade cerebral se dá aos 22 anos e, a partir daí, as conexões entre os neurônios já começam a declinar. A escolaridade da vítima também influencia: foi comprovado que um cérebro com mais escolaridade compensa essa perda de neurônios enquanto os menos escolarizados ficam no preju. Quando digo “escolarizado” não é nem universitário, com pós-graduação e MBA não. Uma pessoa culta, que tem hábito de ler e se movimenta, se exercita, já está bem na fita. Em números: uma pessoa com um mínimo de cultura perde 10% dos neurônios enquanto a não-culta perde a mesma porcentagem que os velhinhos que sofrem de demência ou Alzheimer, 50%. Imagina o que é perder metade dos neurônios? O Tico vai embora e o Teco morre de tédio!
E por que a idade crucial é 27? Aí é que está o problema. O neurologista Paulo Henrique Bertolucci, entrevistado pela Superinteressante, diz que do ponto de vista evolutivo, por volta dessa idade você já deveria ter se reproduzido e, por isso, já estaria chegando a hora de se aposentar. “Afinal, o homem das cavernas não vivia muito mais que 30 anos. E seu cérebro é idêntico ao dele.”
Peraí. Homem das cavernas? Pô, como o cara quer comparar a Idade da Pedra com os dias de hoje? Depois de tudo que escrevi, não vou me dar o trabalho de listar as diferenças, me parecem um tanto óbvias. Os homens das cavernas só pensavam em caçar, comer e procriar. Eles não planejavam frequentar a universidade, construir uma carreira, não precisavam aprender inglês, francês, alemão e chinês para enfrentar o mercado de trabalho, ganhar dinheiro, achar um cara legal para ter filhos e garantir o futuro deles! Que ideia!
Há ainda uma luz no fim do túnel, pessoas-de-27-anos-ou-mais-solteiras-e-sem-filhos... Os cientistas descobriram que algumas habilidades continuam crescendo normalmente. Ler livros, aprender a tocar instrumentos, modificar o caminho para o trabalho e pegar sol para produzir vitamina D (que libera uma substância aí que não lembro mais o nome) são exemplos de exercícios para o cérebro. Mas não adianta fazer tudo isso e viver uma vida quadrada. Tem muita gente de 20 anos mais velha que os velhinhos de 70. Isso sim é velhice mental! São jovens burocráticos, sem iniciativa, acomodados. Vocês veem como os velhinhos de hoje são animados, bem dispostos, persistentes, aprendizes e nem parecem ter a idade que têm?
É esse pique que deve entrar na nossa cabeça. Por isso, mantenha a mente aberta. Abra sua cabeça em todos os sentidos – menos o literal, espero. Hehe
E antes que isso aqui vire um livro de autoajuda, quer saber a equação de Clapeyron? Pega lá o seu Feltre e descubra sozinho... hehehe