segunda-feira, 11 de maio de 2009

Psicologia barata

Estava lendo hoje no trabalho um livro do Irvin D. Yalom, renomado terapeuta norte-americano que escreveu livros como A cura de Schopenhauer, Quando Nietzsche chorou e Mentiras no divã. Revisava bem distraída este último livro quando uma história me pegou: uma mulher que passava por dificuldades no casamento - para falar a verdade, "dificuldades" é até uma palavra fácil para o que ela estava realmente passando - começa a ver o terapeuta com outros olhos, tentando seduzi-lo. Ela lhe faz várias perguntas, e Yalom, ao narrar a história, descreve também a dificuldade de lidar com uma pessoa como aquela. Como um ensinamento, ele expõe para o leitor seus princípios, seus métodos de terapia, seus pensamentos, o modo como um psiquiatra deve agir. Essa narração particular é a parte mais interessante do livro, pois faz com que o leitor raciocine junto com ele em busca de uma saída para o problema.

A mulher é bonita, atraente e possui certos desejos. Ela é uma paciente, sim. E ele é seu médico, sim. Mas é um homem. Não há nada de antiético na guerra dos sexos. Então, como separar as duas coisas? O psiquiatra se mostra bastante respeitoso, apesar de admitir se sentir atraído pela paciente. Diz que o pior que pode acontecer numa relação médico-paciente é, de fato, o envolvimento amoroso, já que quem mais se prejudicaria seria ela mesma. Ela é a problemática, a carente de atenção, a carente de respostas. Daí vem uma coisa pior ainda: não saber corresponder às expectativas dela ao deixar de responder às suas curiosas perguntas.

No entanto, o que um psiquiatra pode saber mais do que o resto das pessoas mortais? Só porque estudou medicina e a psiqué humana não quer dizer que tenha respostas para tudo. Por que um psiquiatra - terapeuta, analista, psicólogo, todos estes termos estão inseridos aí - deve sempre ter uma solução para todos os problemas?

Saí do trabalho e fui ao médico - não a um psiquiatra, mas a um angiologista rs Na sala de espera do consultório, a mulher à minha frente citava seus dados à secretária a fim de fazer a ficha. Profissão? "Psicóloga." Dei uma olhada nela. Cabelos grisalhos meio desgrenhados, calça pescando, All Star, devia regular uns 50 anos e não era casada (pelo menos não tinha aliança - depois eu explico direito essa minha mania de olhar as mãos dos outros hehe). Vamos supor que esta mulher exerça a profissão e que nunca tenha se casado. Se uma mulher como essa paciente do dr. Yalom vai se consultar com ela, que tipo de conselhos a psicóloga pode dar, se ela não passou por nada daquilo, sequer pela experiência do casamento?

Isso é uma curiosidade minha. Tenho muitos amigos que se consultam com psicólogos. Segundo o que me contam, eles são uma espécie de conselheiros. "Ando muito ansioso, o que eu faço?" e "Brigo muito com meus irmãos, o que eu faço?" são algumas das questões que eles me contaram. Gente, sinceramente, não é preciso gastar dinheiro num terapeuta para responder a essas perguntas. Acho que mães, pais, amigos fazem as vezes de terapeutas nessas horas. E é para isso que eles servem, além de o conhecerem melhor que um psicólogo que tem milhões de pacientes. Duvido que um profissional desses conheça um paciente tão profundamente a ponto de dar conselhos sinceros. Se conhecer, vira amigo.

Mas, voltando ao assunto, à exceção de um caso especial - como desvio de comportamento, envolvimento com drogas etc. -, como um psiquiatra pode saber as respostas para situações que nem ele mesmo vivenciou? Os problemas desses pacientes não são como doenças clínicas de pessoas diferentes às quais se prescrevem os mesmos remédios. São pessoas diferentes, são problemas diferentes, são reações diferentes, ainda que o caso seja mais ou menos igual.

Se o cara for mesmo um bom profissional, como o dr. Yalom deixa escapar, o paciente conseguirá alcançar a resposta através de uma autoanálise. O psiquiatra apenas o ajudará a responder às suas próprias questões. A solução é justamente essa: cada pessoa carrega em si sua própria resposta.

9 comentários:

  1. é possível ver que você não entende nada de psicologia.

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  2. Eu faço e não tem nada disso de "pra que gastar dinheiro"! é uma economia porca pensar dessa forma... Se vc tem um problema de pele, vai no dermatologista, se tem uma parede pra fazer, procura um pedreiro, dor de dente? dentista. Coisas da mente, nada melhor que um BOM psicólogo. Sem banalizar ou julgar o comportamento alheio ele busca lhe confrontar com o que seja verdadeiro e a real origem das questões. Lógico, como em todas as profissões existem BONS psicólogos e uns que se dizem psicólogos, psiquiátras etc... Mas não dá pra avaliar exemplos negativos como regra geral...
    Midori, vc tá precisando de um analista!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! hauhauhauahuahua

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  3. Mas o que o faz pensar ter, de fato, um problema de mente que precise, necessariamente, consultar um psicólogo? O que eu vejo mais, e nesse livro que estou lendo particularmente, são pessoas que precisam de um estímulo, que precisam de um "empurrãozinho", como o cara que frequentou por cinco anos o terapeuta para tentar se livrar de um casamento tirano e, um dia, simplesmente porque a amante lhe sugeriu largar a família, ele foi lá e fez. Saiu de casa. Não digo que frequentar terapia seja uma coisa banal, mas sim que os "pacientes" deveriam repensar a real NECESSIDADE disso. Pagar um cara e tomar seus conselhos como uma "ordem" divina ou o 11º mandamento não me parecem atitudes justas. Ao anônimo, respondo com a maior sinceridade: não, não entendo nada de psicologia, é apenas um tema sobre o qual estou lendo no momento e que gostaria de discutir. Não estou tomando a minha opinião como a verdade universal. É apenas a minha opinião. Essa é a razão de manter um blog, oras.

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  4. Ah, acabei esquecendo, anônimo, em vez de somente dizer que não entendo nada de psicologia, por que não expõe o porquê de eu não entender nada sobre o assunto? Argumente, traga para o debate, seja mais ativo... (aí vai o meu conselho de psicólogo hehe desculpe)Quem sabe um dia - quando tiver dinheiro - eu não frequente um analista e mude de ideia...

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  5. Não existe régua pra medir problemas, sentimentos ou subjetividades alheias, portanto me referia à isso quanto à banalização... aliás, nem gosto desse palavra acho que expressa pouco porque foi, justamente, banalizada...
    E não tem nada de ordem divina etc e tal. Ele te poe em contato com você, simplesmente. Portanto, poucas vezes se mete como pensam.
    Também acho que o anômino deveria falar mais!

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  6. Na minha opinião, se vc tem amigos ou religião, vc não precisa de um psicólogo hehehe

    É tudo uma questão de ter o que pensar, refletir e ter com quem debater suas opiniões e pontos de vista. Direcionar as energias, enxergar as coisas por angulos diferentes. Abrir a mente...

    Leave and let leave... As coisas não precisam ser complicadas... as pessoas que complicam.

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  7. Eu tenho amigos e religião E psicólogo!
    Que coisa mais do contra! Isso parece postura de quem não conhece a profissão, tem contato indireto (livros, entrevistas, programas de tv, internet, preconceito, amigos dos amigos etc) ou tem trauma com maus profissionais! Além, é claro, de conflito com o pai ou a mãe! huahauhauhau

    Parei de defender os psicos...

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  8. Eu já ia mesmo te perguntar se vc tá recebendo algum cheque da Associação dos Psicólogos para defendê-los tanto rs
    Bom, eu nunca frequentei psicólogos, não tenho conflitos com meus pais, acho que não tenho problemas mentais (até onde me conheço), mas admito ter um pouquinho de preconceito. Mas quero lembrar que estou embasando a minha opinião em cima do que li no livro Mentiras no divã, do Dr. Irvin Yalom. E, Iuli, devo dizer que muita coisa se aprende lendo livros - inclusive os próprios psicólogos. Não é contato indireto. Ontem li no próprio livro um trecho que me interessou bastante e vou postar aqui para fomentar a discussão e enfatizar o meu pensamento: "Quem disse que o objetivo da terapia é ser verdadeiro sobre tudo? O ponto central, o primeiro e único ponto, é sempre agir no interesse do paciente. Se os terapeutas descartassem as diretrizes estruturais e, em vez disso, decidissem fazer do seu próprio jeito, improvisar de qualquer maneira, ser sincero o tempo todo, ora, imagine, a terapia se transformaria em caos. (...) Os pacientes reclamavam que ele [o terapeuta] não era nada mais que um amigo alugado por uma hora. Seria tão impossível que terapeutas fossem genuínos, autênticos, em todos os encontros?"
    Ou seja, os terapeutas são pagos pra dizer o que vc quer ouvir. Preciso dizer mais?

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  9. É impressionante como algumas pessoas precisam recorrer a desconhecidos (psicologos) mediante a pagamento (relação de comércio) para lhes dizer o que no fundo sabem.....psicologia = bom senso dito por um desconhecido, tem gente que precisa disso.

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