quarta-feira, 6 de maio de 2009

A quinta história

Em busca de algum material de disciplinas passadas que me salvasse da prova de português que devo fazer amanhã (ou hoje, depende do ponto de vista) de manhã, revirei minhas pastas e arquivos dos meus primeiros períodos na faculdade de Letras e achei um trabalho que fiz para teoria literária. Para quem não conhece, teoria literária é a disciplina mais viajante de todo o cronograma do curso. Ou seja, quanto mais você viajar maior será sua nota.

E foi o que fiz nesse texto que publico logo ali embaixo. Tentei viajar certo - porque, também, viajar errado não adianta nada. Esse é um dos maiores desafios do curso: entender o que os professores querem de você quando você não entende nada do que vem deles. A professora de teoria literária era super gente boa - e devia ser boa professora mesmo, eu que boiava em tudo o que ela falava. Não sei se ela gostou mesmo do meu texto ou se viajei o suficiente para ela considerar uma viagem "certa". Bom, no final das contas, ela me deu 9,5. hehehe

A proposta era continuar o enredo do conto "A quinta história", de Clarice Lispector, nossa ucraniana brasileira favorita. Nem é minha favorita não, mas gosto muito desse conto. Gosto muito porque é uma história simples, sem enfeites e criativa, mas que os professores e teóricos da literatura cismam em colocar significados e encontrar metáforas para todos os termos do texto. Só para complicar! É como aquela história do poema de Drummond, "No meio do caminho", em que interpretaram a pedra como todas as dificuldades de uma vida enquanto o próprio poeta disse que a pedra era apenas... uma pedra!! É lógico, o que mais poderia ser?

Em "A quinta história", Clarice narra quatro histórias sobre como matar baratas, começando cada uma com uma queixa. "Começa assim: queixei-me de baratas." Essa insatisfação é a motivação para que ela comece a escrever. Eis que ela teoriza sobre a própria textualização: o assunto pouco importa, o que importa é como escrever e como contar a história. A autora tem fobia de baratas, o que incentiva um ritual noturno que satisfaça seu vício por matá-las. São cinco histórias (quatro, na verdade, a quinta ela deixa em suspenso) em uma: elas são as mesmas, mas ao mesmo tempo não são iguais. Entenderam, ou viajei demais? rs

Enfim, a quinta história, aquela que devíamos continuar, segundo meu ponto de vista - ou a minha viagem - está aí no parágrafo seguinte. Mas acho melhor vocês lerem o conto original primeiro para entenderem. Está aqui: http://www.quemtemsedevenha.com.br/quinta_historia.htm

A quinta história chama-se "Leibniz e a transcendência de amor na Polinésia". Começa assim: queixei-me de baratas. Vai até a noite seguinte. Repito o mesmo ritual. Desta vez, fico acordada para observar as baratas. Surgem duas ou três. Achava que vinham mais. De repente é o horário, de repente é muito cedo. Uma delas chega ao lado do meu pé. Tão acostumada que estou com sua visita noturna já não corro mais aos prantos como antigamente. Observo-a. Ela me implora para não deixá-la morrer. A barata me olha. Percebo o ato cruel que estou cometendo. Ela sai de perto de mim e vai de encontro ao veneno. Não faça isso! eu penso. E, como se lesse meus pensamentos, ela recua, duvidosa. Encosta-se na parede e fica ali por um momento. Depois, examina toda a área do veneno, avança, recua, avança, recua. Leibniz, o filósofo matemático, questionava se todas as criaturas avançam sempre ou se existem também aquelas que perdem e recuam sempre. Que destino teria esta barata? Decido chamá-la Leibniz. Perdida em meus pensamentos, não percebi que Leibniz estava comendo o veneno. Leibniz, apaixonei-me por você. Apaixonei-me por sua história que nem conhecia. Leibniz virou estátua, assim como as outras. Eu amo aquela barata. Coloco Leibniz dentro de um pote de vidro comprado na Polinésia. Ficou bonito ao lado do boneco de neve. Amei a viagem à Polinésia. Mas amo muito mais Leibniz, cinzento e seu casco duro como pedra. É a pior noite da minha vida. Morreu um pedaço dentro de mim junto com Leibniz. Das histórias anteriores, o galo cantou.

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6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Adorei o seu trabalho! Como não sou professor de TeoLit, graças à Deus, não posso julgá-lo quanto a nota merecida. Mas com certeza não seria menor do que 8!!

    Poxa, esse foi um trabalho de TeoLit I?? Se for, pq os meus são tão chatos..rs
    Você não viajou "tanto" assim. A sua viagem foi perfeitamente aceitável, ao contrário das aulas, você é capaz de imaginar o que se passa e o porquê do pensamento. *isso levando em conta que estamos falando de TeoLit, né..rs*

    Parabéns, essa matéria e tão viagem que, fazer um trabalho bom sem se estender muito é admirável. Nunca pensei que iria gostar de ler algum trabalho de TeoLit..hahahaha

    Ps: Disseram que o prof de TeoLit vai cobrar presença, ou seja, voltarei a ter que assistir às aulas... saco..

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  3. Muito bom Midori. Gosto muito desses contos, rápidos, dinâmicos, cheios de hiperlinks.
    Parabéns e publique mais! Fiquei sabendo que tem vários contos quardados no armário!
    Bjs

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  4. po midori, a historia que vc contou acima ela esta completa. ou o link que vc colocou acima te a historia toda o link é: http://www.quemtemsedevenha.com.br/quinta_historia.htm esse link esta contado a historia toda ou e so um pedaço pq eu li o seu texto acima e nao entendi

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  5. ualllllllllll,num tenhu a minima ideia do ki TeoLit kkk ainda estou no terceiro ano do colegial,mais gosto do pouco q sei da Clarice,e vc arrazou garota,muito bom,por um estante viagei com vc,como sempre acontece quando leio obras claricianas.
    parabenssss
    DEUS TE ABENÇOE

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  6. vc me fez entender clarise lispector
    vALEU.......

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